Por Eduardo Soares

Mentir pra si mesmo é mentira sincera?
Mentiras sinceras me interessam
Pense rápido: quantas vezes você mentiu hoje? Nenhuma? Ah, pense bem. Seria você capaz de não mentir por um dia, como fez o personagem do Jim Carrey em “O Mentiroso”?
Normalmente, a justificativa para a elaboração das mentiras (cabeludas ou amenas) surge coma intenção de evitar algum tipo de punição. Tem gente que mente para evitar aquela bronca do chefe. Celular toca:
– Fulano, você está perto do trabalho?
– Sim, chefe! Estou chegando na porta (da van, a pelo menos dez quilômetros de distância da sua sala)!
Quando estamos errados, mentimos para o guarda na hora da blitz com o intuito de afugentar a temida multa salgada; mentimos para aquele amigo chato que encontramos na rua, quando dizemos que estamos apressados (quando na verdade aquele é o seu dia merecido de folga); mentimos na infância, seja para a professora ou para nossos pais, quando esquecemos de fazer o dever de casa; mentimos nossa idade na adolescência, na tentativa de parecermos adultos (possivelmente para impressionar alguém mais velho que nota nosso “teatro” a anos luz de distância)…
Alguns dirão que nos exemplos acima o correto seria dizer que as pessoas usaram apenas boas e velhas “desculpas esfarrapadas”. Ok, então me diga qual é a diferença da tal desculpa para a mentira deslavada? Quão fundo é o abismo que separa o errinho do errão, acertinho do acertão, mortinho do mortão, vivinho do vivão? E já que o assunto envolve profundidade, o buraco que vem pela frente é mais embaixo. Você que adora esculhambar o discurso pomposo do político cara-de-pau (conhecemos vários, discursos e politicos, ambos sujos) já parou para pensar que ao dar lições de moral e conduta para seus filhos, inconscientemente você mentepara eles quando aceita molhar a mão do guarda ao ser pego(a) por andar com a habilitação vencida? Ah, vai dizer que isso é malandragem, que o sistema permite tal procedimento? Primeiro que esse negócio de colocar a culpa no tal sistema é a desculpa para abonar todas as burradas do mundo. E, respondendo a pergunta, então não queira dar lições de cidadania para seus herdeiros quando VOCÊ (espelho para eles) não faz o dever de casa, como nos tempos de criança. Pelo menos naquela época você agia com relativa inocência. E quando o bandido é acusado, ninguem usa um termômetro moral para medir as barbáries cometidas pelo mesmo. Pois bem, assim como não existe crimezinho e crimezão, não existe mentirinha e mentirona.
Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira
Se existe alguma ação digna de pena, ela atende por nome e sobrenome: viver de aparências. Perante a sociedade, aquela pessoa vive no mundo perfeito, onde tudo é belo e nada, absolutamente nada tem a capacidade de modificar aquele panorama. Realidade: longe dos olhares, das amizades, dos sorrisos. Dentro da sua casa, o lamaçal (gerado através da desarmonia e conformismo) invade feito uma avalanche, todos os cômodos, atingindo inclusive (e principalmente) seu maior reduto: o coração.
Pra quê fingir que está tudo bem quando na verdade você está asfixiado(a), preso debaixo de centenas de quilos de falsas aparências? Quem irá segurar sua mão se até mesmo você não tem mais forças para estendê-la? É isso que você quer, perder a vida em câmera lenta, sem ao menos lutar para sair dos escombros impostos pelas falsas verdades (ou ilusões sinceras) que você mesmo derrubou sobre seu corpo?
O titulo do texto foi uma brincadeira entre dois trechos de músicas do Cazuza e Legião Urbana. Apesar de antigas, o cenário sugerido pelas citações é cada vez mais comum. Primeiro de Abril está chegando. Tenha cuidado para não multiplicar o famoso dia da mentira no seu calendário. Ou então, chegará um tempo em que a carga deduplicidade dos seus atos/idéias será tamanha que até mesmo você irá questionar suas próprias verdades.
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