Relacionamentos conturbados: aborrecimentos que dão certo?

Por Eduardo Soares

Desci da estação do metrô ontem à noite e esbarrei com um amigo que não via desde a época do primeiro grau (ou Ensino Fundamental, para os mais novos). Engraçado encontrar uma pessoa que no último encontro era apenas um colega de classe e hoje está casado e pai de três filhas (temos a mesma idade, 32 anos). Ou o tempo voa demais para alguns ou outros assumem compromissos precocemente. Vários “causos” foram contados às gargalhadas. Como é bom resgatar divertidas histórias que naquela época, eram dignas de suspensão e por consequência, castigo em casa. Entre um chopp e outro atualizamos os papos. Relatei que continuo solteiro e sem filhos (está complicado encontrar a perfeita cara-metade imperfeita), para espanto do amigo. Ele, em contrapartida, relatou que casou aos vinte (com uma amiga de infância, que, diga-se de passagem, era “inimiga” dele nessa fase) e três anos depois contratou a cegonha que concedeu ao casal três filhos de uma tacada só.

Aí vem o questionamento do título. O casal vive às turras. Desde o primeiro segundo de tudo até os dias atuais. Perguntei a ele o motivo de tanta confusão: ciúmes, bobeiras, discordâncias. Dois dias de brigas, caras fechadas durante mais dois dias… e a santa paz volta a reinar no (outrora) ambiente de guerra, amém! Entre confusão e sarcasmo, mandei na lata: brother, como vocês conseguem (con)viver assim? Dormem com facas, fuzil e escopeta? Ele riu e respondeu “sabe aquela pessoa que você não saberia viver sem tê-la ao lado? É por isso que estamos juntos. Quando você passar por isso, vou te ligar dizendo: te falei, sujeito!”

Proseamos por mais meia hora e cada um seguiu seu caminho. No trajeto, fiz uma reflexão demorada e concluí que, pelo menos na minha vida, a teoria dele fazia sentido. Meus grandes/intensos relacionamentos, por incrível que possa parecer, foram os mais conturbados. Tentei encontrar alguma conexão lógica entre eles que justificasse essa conclusão ilógica. Talvez fosse o desafio de ter uma pessoa diferente de mim APENAS em determinados aspectos. Ou também poderia ser o conflito de dois temperamentos fortes, sei lá. Cada desavença suscitava um novo desafio e de certa forma, tentávamos buscar nas diferenças nosso ponto de equilíbrio. Sem esquecer dos conceitos individuais.

Os opostos se atraem, iguais se repelem. Se nao estou enganado, isso é alguma lei aplicada no magnetismo. Mas o primeiro trecho (os opostos se atraem) é repetido incansavelmente quando abordamos assuntos sentimentais. E eu discordo de quem diz isso. Nao dá para conviver com alguem COMPLETAMENTE diferente. Notem que deixei o “apenas” em letras garrafais no parágrafo acima justamente por isso. Quanto ao segundo trecho (iguais se repelem), eu concordo. Imaginem aquela pessoa que é a cópia fiel das suas vontades. Não haveria espaço para uma discordânciazinha sequer? Calmaria demais, na minha cabeça, atrapalha.

Para os carentes de plantão, cuidado: ficar com alguém por medo de solidão (ou conveniência) é a maior traição que você pode cometer consigo mesma. Nunca minta. Jamais finja. Se não está legal, converse.

Não levanto a bandeira do “vamos viver entre tapas e beijos”. Nunca fui favorável a brigar por coisas insignificantes.  Fazer da harmonia um palco de estresse certamente não é algo digno de maturidade. Mas (e isso é polêmico), quando tudo parece ser perfeito demais, calmo demais, ameno demais, em algum momento do relacionamento, perde-se um pouco do encanto.

Concluí então que aborrecimentos na medida certa formam o diferencial no relacionamento? Será por isso que continuo sem ninguém para dividir a pipoca num dia qualquer?

Ser adulto é complicado…

P.S.: Antes que me chamem de louco, guardadas as devidas proporções, alguns sites enfocam conceitos parecidos com o citado no texto.

http://hypescience.com/por-que-mulheres-insistem-em-relacionamentos-complicados/

http://www.donagiraffa.com/2011/05/vale-a-pena-investir-em-um-amor-dificil.html

14 Comentários

Arquivado em comportamento, Para Refletir, Relacionamento

14 Respostas para “Relacionamentos conturbados: aborrecimentos que dão certo?

  1. Keque

    viva e seja feliz!!!

  2. Nossa, Edu. Concordo em absolutamente tudo que você disse aqui. Talvez por isso que eu também ainda não tenha encontrado a perfeita cara-metade imperfeita!
    Olhando lá no passado, meus relacionamentos mais marcantes foram os conturbados. Já aqueles calminhos foram embora que eu nem senti. E todo mundo perguntava “Como? Vocês se davam tão bem!” Pois é. Nos dávamos até BEM DEMAIS e isso enfraquecia o relacionamento.
    Apesar de ser “da paz”, confesso que desentendimentos seguidos de “make up sex” fazem bem sim até pra apimentar, descobrir e avaliar a situação. Eu gosto.
    Acho que muitas mulheres vão concordar com isso, não?

  3. Paula Regina

    Eduardo, parabéns pela crônica nota 10.

    Conheço vários casamentos assim. Juntos por serem 2 chatos e terem ciência que só os dois se aguentam; unidos pelas brigas; casados pelas histórias infelizes que os unem, casados por comportamentos psicoemocionais… e por aí segue.

    A título de esclarecer, apenas isso.
    O antigo Primeiro grau, hoje Ensino Fundamental – ciclo 1/anos iniciais (1o. ano até o 5o. ano) e ciclo 2/anos finais (6o. até o 9o.), que compreendia da Alfabetização até a 4a. série e da 5a. série a 8a série.
    e o antigo Segundo Grau, hoje Ensino Médio.
    Sendo assim, “época do primeiro grau (ou Ensino Médio, para os mais novos).” está incorreto. Seria isso: época do antigo segundo grau (ou Ensino Médio para os mais novos) ou, época do antigo primeiro grau (ou Ensino Fundamental para os mais novos).

    • Keka Demétrio

      Ain, Paula, eu (Keka) que publiquei o texto pro Edu, e confesso que ele me pediu para corigir e eu me esqueci. 😦 Acho que vou fazer isso agora antes q ele me corte o pecoço. rsrsr
      Bjoss

      • Paula Regina

        Keka e Eduardo, que isso… Foi só a título de ilustração.

        Nem preciso dizer que minha área é na Educação, né? kaakakak O professorinha maletinha haahahaha

        Bjks a voces 2 também.

  4. “quando tudo parece ser perfeito demais, calmo demais, ameno demais, em algum momento do relacionamento, perde-se um pouco do encanto.” – a base perfeita da minha melhor história. Devemos assumir que os relacionamentos existem para nos servir de escola: se não está disposto a aprender e crescer com alguém que você considera indispensável, certifique-se de que você se conhece tanto quanto pensa. Acho que não existe uma regra, como já abordei em outra prosa, você deve ficar satisfeito se aquela pessoa te faz feliz por algum motivo, sendo ou não semelhante a você – o relacionamento é construido de acordo com a disposição de ambos. Cumplicidade, carinho, lealdade e felicidade. O resto, é resto. Concordo em genero, número e grau, sr. Eduardo!
    Beijão.

  5. Pierre

    Muito boa a crônica, parabéns!

  6. Acho que duas pessoas diferentes discordam sim , mas um relacionamento conturbado para mim é sinal de que alguém esta com problemas, ou mente para seu parceiro, ou tem baixa auto estima e tem ciúmes de mais, ou não quer ceder as diferenças … existem vários motivos, e se justamente esses relacionamentos tão conturbados foram os mais inesquecíveis , talvez seja pq o ser humano tem aquela velha mania de achar que o outro vai mudar toda sua personalidade, vai ser o ser idealizado, e aí acontecem as frustrações difíceis de esquecer …
    Não sou boa para falar de relacionamentos, mas que o equilíbrio e o respeito deve ser uma busca constante tanto interiormente quando nos relacionamentos, mas é claro que discordâncias sempre acontecem …. e muitas vezes são positivas, pq o relacionar-se ajuda ambos a crescerem a somarem experiências e talvez a se ajudarem a mudar em algumas coisas …
    Acho que relacionamento é como a Pororoca (fenômeno que ocorre do encontro da água do rio com o mar) quando duas pessoas se encontram acontecem um turbilhão de coisas e depois que o rio já deságua no mar vem a imensidão da transformação e a profundidade do amor de uma forma mais calma e de transformações e sentimentos sempre mais maduros 😉

  7. Mariana

    A beleza de um relacionamento está (entendo eu) na admiração pelo outro, em saber ser flexível no que te encomoda na outra pessoa. Pensar que amor é plena harmonia é excesso de inocência.
    Não convivo nem comigo mesma sem uma briga de vez em quando, quiçá com alguém que não compreende os dissabores de uma boa TPM.
    Não me sinto só nem infeliz pela minha solteiríce aguda, porém sei que tem um antídoto andando por aí e um dia eu o encontrarei.
    Sobre seu velho amigo que diz não saber viver sem aquela pessoa do lado…Bom, acho um pouco triste perceber no outro um pilar para vida. Vejo o amor, antes de tudo, como companheirismo e amizade. Não como um pilar de sustentação que qualquer furacão o levaria junto com minha alegria de viver.
    Mas é só minha percepção. Cada um sente o amor e a coisa amada do seu jeito.
    E logo vai encontrar quem aceite dividir a pipoca com vc. (como se isso fosse difícil)
    😉

  8. Adorei o texto!!! (como sempre)
    Ainda nao to podendo dar opiniões sobre relacionamentos mas arrrazouuu rsrsrs
    bjussss

  9. regina

    achei muito legal Edu vc conseguiu ver alem do q o seu amigo pode contar.. e chegou a conclusão q ele é feliz da forma dele e não tem nada melhor q encontrar alguém tanto tempo depois e ver isto…
    vc também com certeza vai ser muito feliz no seu encontro…
    ja vivo como seu amigo… dias felizes dias quentes… mas com muito amor

  10. Cynthia

    “Concluí então que aborrecimentos na medida certa formam o diferencial num relacionamento?”
    Eu mudaria a pontuação: “Concluí então que aborrecimentos na medida certa formam o diferencial num relacionamento.” E acrescentaria: em qualquer tipo de relacionamento. Claro que aqueles aborrecimentos monstruosos estão fora, mas pensamentos e opiniões diferentes fazem parte e bem para qualquer relacionamento. Pelo menos, acredito eu!
    “Ser adulto é complicado…” Ô! Se é… kkk…
    Muito bom, Edu!!!
    Cheiro “pra tu”!

  11. Adélia

    Oi! Muito boa sua reflexão sobre o assunto. Mas, acho que os opostos se atraem, sim! O que não dá é viver numa relação em que não há parceria. Casamento, antes de tudo, é uma sociedade, uma relação de parceiragem. O amor aparece secundariamente àquela paixão inicial, mas principalmente, quando a sociedade limitada ficou bem estabelecida. Costumo brincar que casamento é “business” antes de mais nada. Viver com alguém diferente é mole. Viver com alguém que vê a vida e a vive com olhos diferentes de vc é triste. O casal tem que olhar pro mesmo caminho e lutar com o mesmo entusiasmo (mesmo que por coisas diferentes, desde que o objetivo final seja o bem comum). Aprender a amar quem cuida bem da gente é fundamental. Amores impossíveis não existem: o que acontece são pessoas com objetivos equivocados. Respeito, carinho, lealdade, um beijo gostoso, um abraço aconchegante, uma boa parceria e um sexo gostosinho, garante a felicidade e uma boa pele… Precisa mais? Beijos amore!

  12. Daniele Mota

    Muito bom…pensei q estivesse louca… as pessoas acham q relacionamento é como “lego”,tudo na base do encaixe e não é!!
    E todo tipo de relacionamento é difícil…
    Tá faltando compreensão,diálogo,paciência…
    Muito obrigada,bjus

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