Por Renata Poskus Vaz
Antigamente, a moda mineira era conhecida como a melhor moda do País. Estou falando da moda de uma maneira geral, não especificamente a plus size. Gente de todo o Brasil saía de suas cidades para fazer compras para suas lojas em Minas Gerais, sobretudo na região de Belo Horizonte. São Paulo sempre foi conhecida como o destino das roupas baratas e diversificadas, mas Minas gerais era sinônimo de qualidade. A mesma blusinha de malha que você pagava no máximo R$50 no Bom Retiro, custava R$100 em Minas Gerais. Mas a de São Paulo durava 1 ano, enquanto a de Minas no mínimo 5. Outro destaque era o acabamento, sempre bem feito, além de muitas aplicações. Mineira não gosta de coisa básica, desta forma, mesmo a roupa mais simpleszinha tinha um ar de roupa chique.
Neste mercado mineiro, surgiram dezenas de confecções plus size. A maioria trabalha com grade que começa no manequim 42 e vai até o 52, 54. Todas com modelagens generosas. A grife pega um manequim 44, mas coloca uma etiqueta 42. Então, a gordinha entra na loja, veste a roupa com manequim menor e vê que cabe nela, fica feliz e leva logo para casa. Estratégia de marketing que dá certo. Desta forma, com produtos baratos, modelagens amplas e muita qualidade, há décadas existem dezenas de confecções plus size em Minas Gerais. Sim, há décadas. Você sabia?
Grifes Mineiras omitem que fabricam roupa plus size
Ok, você vai me dizer que não sabia disso, que desconhecia que existem tantas grifes plus size mineiras e há tanto tempo. E eu compreendo. Afinal, nos catálogos dessas grifes, eles usam modelos muito magras. E quando eu digo magra, é magra mesmo. É normal que uma modelo plus size tenha pouco busto, ou que tenha perna fina, ou um quadril mais estreito, ou um braço bem esguio, ou pouca barriga, mas ela não é uma modelo plus size se reunir todas essas características! E, quando vejo isso, confesso, me sinto, como consumidora, desrespeitada.
Estive, há uns dois anos em Belo Horizonte, conversando com a gerente de marketing da Marcia Morais, que se mostrou receptiva em conhecer mais profundamente o mercado plus size. Gentilmente, ela marcou uma reunião para que eu conversasse com um grupo de proprietárias de grifes plus size mineiras. E sabe quantas delas foram na reunião? Só a gerente da Marcia Morais. Isso mesmo! Apenas ela. Também já mandei diversos e-mails para essas marcas, nenhum respondido.
Não sei o porquê dessas marcas esconderem que fabricam para mulheres com medidas generosas. Acredito que se deva ao preconceito de pensar que as consumidoras querem se enxergar em um corpo magro. Mal sabem eles que a maioria de nós não quer mais viver de sonhos.
Em 2 anos, o progresso que vi na Marcia Morais foi a encorporação à logomarca da expressão: “plus size”, de forma tímida, bem pequenininha. Porém, a modelo da Marcia Morais, ainda precisa de muitos potes de Nutella para ser plus size. Veja só:
O lookbook/catálogo que mais me chocou entre todas as grifes plus size mineiras foi o da Desireè. Não tem nem como a marca dizer que essa modelo da foto usa o menor manequim que ela diz vender, o 42. Não dá! Dói ver essa modelo da foto. Poderiam ter fotografado em um manequim gordinho de plástico. Eu não sei como os lojistas não se recusam a comprar essas roupas. Como saber o real caimento da roupa em uma mulher plus size sem ver como ela fica em uma mulher com curvas?
E não pára por aí. Juntando o peso as duas modelos da marca Ligia Nogueira, deve totalizar 90 Kg, o que eu peso. Tristeza de vida! A marca também fabrica do 42 ao 52.
Esta, abaixo, é uma campanha da Ligia Nogueira, mais antiga, que também choca pela magreza que nada combina com grife plus size:
Outra marca plus size de Minas Gerais, Belle Carole, fabrica do 42 ao 54. Ela já havia usado modelos mais curvilíneas em seu catálogo, como a Top Silvia Neves, mas parece ter regredido e contratado a modelo abaixo, igualmente linda, mas muito magrinha:
E para completar a Diles.
Como está a moda mineira hoje
Hoje em dia, as confecções de outras regiões trabalham com representantes em todo o Brasil. Isso é, o cliente, lojista, pode receber representantes das marcas em sua loja. Ou então, ele pode comprar no atacado pela internet. Desta forma, aquelas excursões de lojistas para Belo Horizonte, que deixavam as confecções plus size de lá com sorriso de orelha a orelha, já não são tão constantes e rentáveis. Diversas confecções de Santa Catarina, Paraná e São Paulo passaram a produzir moda com mais qualidade e melhor acabamento, desta forma, a moda mineira continua excelente, mas deixou de ser líder absoluta do mercado.
Como consumidora, eu diria para as marcas mineiras:
“Nós, mulheres plus size, não esperamos que vocês coloquem uma modelo manequim 60 em seus catálogos. Mas também não vemos com bons olhos modelos manequim 38. Não rejeitamos marcas que usam marcas plus size em seus catálogos. Muito pelo contrário, nos enxergamos e as recomendamos para as boutiques em que fazemos compras”.
*****
Amanhã vou mostrar umas marcas mineiras que nos amam do jeitinho que a gente é.
sou mineira e NUNCA vi nenhuma dessas marcas a venda… a primeira modelo até que passa, ela é grande demais pra moda comum, mas as outras… Eu não compro se recebo um catálogo assim… Lindas as peças, pena que não tenho a menor ideia de onde comprar…
Nem imaginava essas coisas…interessante o post!!
Nunca ouvi falar em nenhuma marca que você citou. Moro em Uberlândia e aqui conheço 03 lojas plus size, mas aqui a coisa funciona assim: 01 loja é daquelas que acham que toda gorda quer andar ridícula, aquelas roupas enormes, sem corte, sem modelo, uma verdadeira moda “plus insonsa”. A segunda e a terceira lojas possuem roupas bonitas e podemos dizer que de fato possuem roupas plus size, mas, as vendedoras são do tipo que acham que se você não tem nome na sociedade não tem dinheiro para comprar a tal da roupa. Eu entro e elas olham com cara de susto, tipo como se eu fosse assaltar a loja. Não vou fazer compras vestida para uma festa, gorda, parda (negra mais clarinha…rss) e de rasteirinha (aos sábados eu mereço descer do salto), as malditas vendedoras não botam fé. Não me atendem direito, aí quando eu começo a escolher duas ou três peças, elas perguntam se vou levar mesmo, aí dá vontade de dizer: não, escolhi porque queria ver sua cara de pateta! Esses dias fiquei de saco cheio, entrei na Marisa e comprei várias, saiu mais barato e não aguentei nenhuma cara de vendedora me acusando.
Maria, percebi que em Belo Horizonte é muito importante a aparência. Lá, as pessoas quando me conhecem já peguntam: “Renata? E seu sobrenome?”, tipo, como se eu tivesse certificado de origem, pedigree, essas coisas. Mas isso é cultural, né?
Com relação às marcas que citei, são muito conhecidas em São Paulo, diversas boutiques as revendem.
Beijos!
Sim Renata, acho que é cultural. A definiçao de pedigree foi engraçada. É isto mesmo, o problema é que não temos pedigree, como se isto pagasse a conta no final.
Olá, Renata,
Eu sou belo horizontina, vivi aqui a minha vida inteira e já tive diversas experiências em outros lugares, portanto posso dizer que em Belo Horizonte a aparência importa tanto quanto em qualquer outro lugar do país. Ou seja, vão haver vários “nichos” ou seguimentos, se assim preferir, em que a aparência vai ser mais importante do que em outros, bem como a questão de você ter um sobrenome ou não (que aqui em Minas costuma ter muito mais a ver com querer saber quem é sua família do que “o que tem a sua família”).
Claro que tudo é uma questão de percepção, e você teve razões para ter as suas, mas o que posso dizer que Belo Horizonte não pode ser sintetizada por esta sua vivência quando, em verdade, o povo mineiro é tradicionalmente um povo cordial e acolhedor.
A Belle Carole confirmo que confecciona tamanhos maiores… Tenho roupas de lá!
Se visse as roupas da Ligia Nogueira em algum encarte, descartaria a hipótese de comprar na loja… aquilo que a modelo veste não é 42 é muito menor..
Gurias, moro no RS e aqui é bem assim, essas lojas especializadas em plus, as vendedoras são um porre, bem como a Maria Faria escreveu… Gostei do artigo e digo mais, concordo na parte em que não se pode ver o caimento de uma roupa plus numa pessoa que use 38
Sou mineira nunca ouvi falar dessas marcas de roupas plus size,o pior de tudo eu acho que e um grande preconceito deles nao colocarem em seus catalagos modelos plus size!
Olá Renata muito legal este post,valeu mesmo o alerta para estas grifes que acham que ser gordinha é defeito ou feio e garanto que não é falta de modelos em Minas Gerais,aposto que tem mulheres gordinhas e lindas para realmente representar a nossa categoria PLUS SIZE com orgulho !
Gente tô passada, percebo que o Brasil está longe de ser um país sem preconceitos, sim porque nós plus size sofremos preconceito, temos lugar reservado áté no ônibus, em Limeira interior de São Paulo, existem no máximo umas 5 lojas de moda plus size, porém em cada uma encontramos um tipo de problema. E também encontramos aqui aquelas lojas que se mascaram atrás dos modelos 38 da vitrine, e colocam uma modelo de plástico no tamanho plus size bem no canto da vitrine, com uma plaquinha minúscula ao lado escrita assim: “Temos do tamanhao 46 ao 60”, como se ser plus size fosse algo anormal. É ridículo isso, agora me falem gente, quando é que isso vai acabar?
Me mudei pra perto de BH há pouco tempo e um tempo desses atrás fui procurar na internet lojas plus em BH e fiquei de cara qd exatamente com essa questão. fiquei:”oi???” É aquela coisa: pessoa gorda é pessoa feia e pessoa feia não vende. Mas como vc vai numa loja em que a apresentação do material não lhe representa? a gnt ainda tem mt oq andar…
Realmente….
se você não parar e olhar com atenção para essas fotos passaria batido, pois, ninguém diria que essas marcas são plus size…
Meninas, vivendo e aprendendo. esse post foi um descortinar para mim… De verdade!
Não sabia 1/9 dessas coisas.
Achei muita graça em quererem saber seu sobrenome huahauahau Juro que eu falaria Orleans e Bragança, darling. Queria só ver o caron kaakka
Confesso que, já tem tempo, estava em Lavras e fui dar um rolé na cidade e o que tinha de roupa linda e ultra bem feita, me inspirou a abrir a carteira.
beijo grande
Jamais compraria uma roupa desses catálogos, meu primeiro pensamento é: não tem nada pra mim. Mas me identifiquei com a modelo da Marcia Morais, ela é “magra em cima e gorda embaixo”. Mas concordo que para um catálogo Plus Size ela teria que ser mais gordinha. Na minha cidade tem uma confecção onde a maioria das vendedoras são Plus Size. E eu adoro pois elas sabem o que realmente fica bom e o que não fica.
Renata, EU consumidora, NÃO COMPRO DESSAS MARCAS, por um motivo simples, se eu vir essas fotos eu não vou ter a maior remota noção de como essas roupas ficariam em mim, e segundo eu me sinto desrespeitada falo sério, a loja quer vender p mim, ganhar meu dinheiro mas tem vergonha de mim??!!! do meu tamanho?!!! digo o mesmo de lojas on line as que tem modelos gordas e gordonas são as que mais me atraem me sinto respeitada e fico mais segura para comprar, pois sei como vai ficar naquelas dobrinhas rs, vc como sempre falando abertamente das coisas, gosto do site mulherão por isso aqui a gente sabe q vai ler informação de qualidade bjus
Li os comentários e vou dar minha contribuição, aqui na Bahia sobretudo em Salvador, nas lojas especializadas e até nas normais tenho sido super bem tratada, com muito respeito e simpatia e por aqui você entra em loja “de rica” e na maioria das vezes as pessoas se comportam naturalmente não te olham de forma ruim não, mas é aquilo, não fui em todas as lojas.
Ah mas ainda tenho que reclamar do preço, é tudo um pouco mais caro.
Uma coisa engraçada e interessante, as pessoas hoje em dia veem até mim e falam – olha eu conheço uma loja de roupa para gordinha que tem várias coisas lindas vá lá qualquer dia desses rs, acho fofo.
Uma conhecida tem uma loja de roupas e dias desses falou comigo toda feliz, olha! agora lá na loja tem roupas de tamanho maior coisas lindas selecionadas rs achei legal tmbm
Mas ainda tem aquelas lojas com roupas que são apenas grandes mas não são bonitas.
Olá, Maria,
Parabéns pelo post! De fato, foi cirúrgico. E tenho um depoimento que vai bem ao encontro dele. Sou belo horizontina, moro em Belo Horizonte e quase nunca compro roupas nas lojas daqui exatamente por essa inaptidão que o empresariado mineiro ainda tem em lidar com o público plus size. Usando um termo de psicanálse, a gente não consegue ter nenhuma transferência com as garotas dos catálogos…rs
Me encontrei nas compras pela internet, ja temos ótimos sites nacionais no que diz respeito ao custo, qualidade, assiduidade da entrega etc…as poucas coisas q compro por aqui ou são na hora da emergência, ou por passar por um acaso pelas vitrines e curtir alguma coisa, ou por causa da minha mãe que ainda é super resistente às compras virtuais.
arrasou.
bjs.
p.s.: que confusão indesculpável…Renata, desculpe! confundi seu nome no comentário acima, mas as felicitações pelo post são essas mesmas..rs.
Desde quando 42 é plus size???Por favor!Eu peso 76 quilos e tenho 1,71 de altura e uso 42,não sou magra e nem gorda…palhaçada viu!!??Eu sinceramente acho muito mais bonito uma mulher que vista 46,48 do que um vara pau que usa 36 e até 34.A mulher pode ser muito bonita com qualquer idade e peso o que é feio é esse preconceito.
Conheço A Márcia Morais e a Belle Carole.. Não aconselho comprar na Belle Carol.. Não é só pelas modelos , mas também porque a qualidade dos produtos é péssima.. O Preço muito caro.. Comprei a uma peça soltou muita tinta e outras formaram bolinhas e esfiaparam com 1 mês de uso.. Só tem design..
Pingback: Moda plus size ganha mercado. - Alessandra Faria.
Sou mineira e devo dizer que sua matéria vem de encontro a uma triste realidade. Pelo menos em BH – já que não sei te falar de outras – como muitas grifes não se assumem plus size a consumidora fica perdida, sem saber pra onde ir. Por exemplo: eu tive um casamento pra ir ano passado e sinceramente fiquei sem ter onde procurar. Acabei achando uma loja no Barro Preto – que o pólo de confecções por aqui – onde achei 1 ou 2 opções de vestido. Comprei o que deu – e olha que eu podia gastar uma quantidade razoável de dinheiro – e fiquei tão desanimada que nem quis comprar um sapato pra complementar a produção. De vez em quando amigas que trabalham me trazem catálogo de confecções que fazem plus size, mas nada pra varejo, ou seja, nada que eu possa ir a loja comprar. Tenho várias amigas gordinhas aqui que não tem referência nenhuma de loja. E a gorda em Minas é ignorada como um todo. Como a mulher mineira tem fama de ‘bonita’, gorda aqui é um ser de outro mundo praticamente. Adorei a matéria!
Pingback: Lançamento coleção de alto verão 2014 da grife mineira Marcia Morais |
Muito interessante e muito bem escrito ! Mas gostaria de dizer que nem todas as confecções Plus Size de MG são assim…a Xadrez Plus Size ( de Divinópolis-MG, 120Km de BH ) há mais de 11 anos, orgulhosamente valoriza a mulher com curvas, usamos apenas modelos plus size, o termo plus size está em nossas lojas, facebook, no site e loja virtual ( http://www.xadrezplussize.com.br ), sacolas e materias de marketing etc. Temos treinamento para as vendedoras das 3 lojas, para atender este público que é discriminado…que tem dificuldades em encontrar roupas…e muitas vezes entra em nossa loja com a auto-estima baixa ! Acredito ser nossa função que ela tenha orgulho de seu corpo e que se valorize ! Usamos o que há de melhor em termos de tecidos e malhas, e nem por isso cobramos o absurdo que outras confecções cobram…
Impossível não se sensibilizar e não trabalhar tendo isso como uma ideologia, pois durante estes anos, quantos depoimentos chorosos e sofridos recebemos…quantos sorrisos e aumento de auto-estima vimos estampados em rostos outrora tristes e inseguros…
Pra resumir, só gostaria de dizer que nossas roupas são feitas com muito carinho exclusivamente para vocês Plus Size…que conosco, o atendimento e atenção é sempre voltado para vocês…e que trabalhamos e nos aperfeiçoamos para que possamos melhorar e fazer roupas cada vez melhores, mais bonitas e que valorizem os corpos curvilíneos !
Encontrei o post ao acaso, mas achei muito inreressante e propício e atual. Sou Plus Size assumida e reconhecida há quase 27 anos, ou seja, sempre! É fato que a tarefa de encontrar peças boas, atuais e belas para manequins mais avantajados é árdua e por vezes sem sucesso. A maior parte das grifes que trabalham com este público ou as próprias revendedoras não tem a “lógica” de assimilação básica de que gordas, sim gordas! gostam e precisam tanto quanto uma MAGRA se vestir bem, se sentir bem e merecem isso! O valor monetário de tais peças é outro adendo, pois encontrar roupas para mulheres GORDAS na sociedade já difícil, se não tiver dinheiro então..lascou tudo! O mercado Plus Size cresceu e irá crescer muito ainda, mais como Administradora e usuária de tais peças afirmo sem pesar: o mundo pluz size está muito aquém do que de fato precisamos em questão de beleza, conforto e acessibilidade. A começar pelas Top’s que ao meu ver deixam a desejar, e muito, no quesito beleza e inspiração!