Lembranças de um corpo magro

corpo magro

Por Renata Poskus Vaz

É muito difícil para uma mulher que nasceu magra e recebia na adolescência elogios por seu corpo enxuto, se acostumar com um corpo gordo e com todo o preconceito e dificuldades que cercam pessoas acima do peso. A mulher magra cresce associando magreza à beleza. Sente o gosto de ser desejada, amada e admirada. Na cabeça dela, todo esse prestígio e facilidades se devem unicamente ao seu corpo magro. Quanto mais magra, para ela, mais fácil para ser estilosa, para namorar, para ter amigos, para ser convidada para festas, para ter sucesso profissional… Sem magreza, para ela, não há beleza. Não há felicidade. Não há sucesso.

 Engordar, na cabeça dessa mulher, mais do que um aumento de peso, representa o fim de sua autoestima, de toda aquela satisfação que sentia por ser “bonita”. Engordar significa perder, fracassar.  O primeiro preconceito a ser enfrentado pela ex-magra é o que ela sente por si mesma. Lutar contra a própria vaidade é muito mais difícil do que lidar com o novo corpo de medidas generosas. Convencer-se de que é possível ser feliz acima do peso, ser linda, admirada, amada, ter sucesso profissional é a segunda e mais difícil etapa da fase pós-magreza. A primeira, claro, é a negação inicial acompanhada das tentativas desesperadas de emagrecimento com dietas malucas que colocam a própria saúde em risco.

Levam-se anos para que a ex-magra finalmente desista de tentar emagrecer e reconquistar o corpo magro do passado e, só então, descubra suas verdadeiras potencialidades: seu charme, sua inteligência, atrativos que vão muito além da forma física. Engordar, embora represente um descontrole físico, metabólico e até psíquico, não deixa de ser uma forma dessa mulher equilibrar a própria vaidade e se conhecer de verdade.

Mesmo sabendo que conscientemente ninguém queira e nem precise engordar para descobrir seu verdadeiro “eu” é inegável que as ex-magras aprendem com o novo corpo e os desafios de se estar acima do peso, novas formas de se destacarem.

Nesse aspecto, as “gordas de nascença”, aquelas que desde pequeninas já eram robustas e cresceram engordando, são excelentes exemplos. Óbvio que não podemos generalizar, que existem magras sem autoestima e gordas que sempre foram gordas e que nunca se amaram. Porém, a grande maioria, talvez até por não ter vivido uma existência magra, encara a vida de forma mais bem-humorada, conscientes da beleza singular de seus corpos, felizes, bem-resolvidas.

Falo com experiência de causa. Sou uma ex-magra que fazia muito sucesso com os rapazes e amigos com minha antiga silhueta magra. Porém, só descobri minhas reais potencialidades e verdadeira felicidade com o sobrepeso e tendo como exemplo minhas amigas mais gordinhas. 

Ser feliz e realizada sem o corpo magro do passado é perfeitamente possível.

15 Comentários

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15 Respostas para “Lembranças de um corpo magro

  1. lucianaveronica@hotmail.com

    Belo texto , sempre achei que uma mulher magra que engorda , encara tudo com muito mais dificuldade , do que uma que já nasceu acima do peso , vejo isto com minhas amigas , o quanto sofrem , enquanto eu sempre levei tudo numa boa .

  2. Mari

    esse texto foi pra mim….rs sou uma ex-magra, e até hoje não me aceito assim! Adorei o texto,vou refletir mto a respeito! Beijos!

  3. “Ser feliz e realizada sem o corpo magro do passado é perfeitamente possível” … Falou tudo amiga… a mulher tem que estar bem consigo mesma sempre, e é claro que conseguimos ser felizes com uns quilinhos a mais… é só querer! =)
    Adorei o post linda!
    Beijinhos
    Carol

  4. Paula Regina

    Como ex-magra li minha história em sua crônica. Engordei por pílula e para emagrecer, fui tomar anorexígenos (Hipofagin e depois todas as fórmulas com femproporex e dietilpropiona e triiodotironina, tetraiodotironina, triac, triatec etc), que “bagunçaram meu corpo” e depois que parei, engordei tanto, tanto e tanto, que custava a entender o que ocorria com um corpo que usava 36, 38!.
    Hoje, madura, consciente que eu sou além de um corpo magro e ciente do grande mal que fiz a mim mesma com “medicina” do corpo, recupero meu peso de outrora com muito Pilatis, corrida e uma dieta com Nutricionista, onde eliminei todos agentes obesógenos.
    Valeu o post, Renata. Bjks mil

    • Renata Poskus

      Isso mesmo, Paula. Nada contra que nós, ex-magras possamos emagrecer novamente. Só que não vai acontecer da noite para o dia e na mesma velocidade com que engordamos, não é? Beijos!

  5. Pati

    Amigas do mulherão: acompanho esse blog pq amo as reportagens, mas senti falta de vcs falarem da edição de agosto da revista Nova, chique e tudo de bom que este mês tem uma matéria sobre moda plus size…sonho realizado ver a minha revista cosmopolitan falando sobre moda para mulherões como nós. deem uma olhada. Abraços.

    • Renata Poskus

      Pati, eu desprezo a revista Nova, por isso que não sabia desta reportagem. Vou comprar um exemplar só por causa dessa matéria e depois faço um comentário sobre essa matéria que vc gentilmente nos citou. Beijos e obrigada!

  6. Andreia

    Renata, eu já gostava de vc, agora gosto ainda mais, depois de ler seu texto resolvi, tá na hora de aceitar, já fazem quatorze anos q tento todo tipo de loucura para voltar a ser magra, chega né, tá bom. Nesse tempo eu virei mãe, casei duas vezes, me estabeleci profissionalmente e també me enganei. Vc sabe exatamente como me sinto e como vou me sentir se me aceitar, obrigada por me contar. Bjs. Andreia

  7. Bom, eu ainda não aceito e é muito complicado, vivo depressiva e sem animo pra vida como se tivesse parado no tempo. Minha vida não é mais a mesma depois que engordei porque eu quero sempre ser como era. Sempre nessa luta contra a balança e em vez de emagrecer acabo sempre engordando mais. Eu não sei o que fazer para seguir em frente e parar de me preocupar com o peso. Eu queria sabe, de verdade, não dar bola, não dar tanta importância pra isso mas é mais forte que eu :\

    • Renata Poskus

      Eu sei bem como é Jéssica. Passei 10 anos nessas me negando, com vergonha de mim e do meu peso. Eu me sentia muito fracassada por ter engordado. Acredito que não seja mesmo de uma hora para a outra que você vá conseguir mudar a forma de se ver… Leva tempo. Eu só melhorei ao começar a conviver com mulheres mais pesadas do que eu e que eram muito mais bem-resolvidas. Não existe uma fórmula secreta, mas talvez seja bacana vc conviver com pessoas diferentes. Mude de ambiente, conheça gente nova. Beijos!

      • Mesmo quem sempre foi gordinha ,e sempre teve um peso x ,e quando engorda muito é estranho,vc perde totalmento o parametro do seu corpo ,eu ja engordei muito e emagreci e fiquei no peso que sempre foi normal pra mim,mais depois engordei de novo ,isso é muito frustante !agora to novamente tentando emagrecer ,ja sai do maior peso que tive ,mais ainda quero chegar na casa dos 80 ,peso esse que sempre me senti bonita e confortavel …ainda to na luta e vou continuar até atingir essa minha meta ,pois magra não é meu biotipo .

  8. andrea

    Me identifiquei completamente com essa situação. Hoje, aos 53 anos, na menô e ex fumante sei direitinho como é isso. Mas vale pena sim, porque a gente se descobre sexy e feliz, sim, graças a Deus. Bjs a todas
    Andréa

  9. Fabiana

    Amei o texto…bem como me sinto… já deixei pra la um milhão de vezes e voltei atras no quesito emagrecer, não por mim, mas por familiares que por não aceitarem uma “ex magra”, ficam reparando e comentando o físico da gente…..Daí num tem jeito…a gente se levanta, se aceita, se arruma, fica linda….e vem a família ( isso é muuiiiiiiito comum), e diz Lindaaaa….mas GORDA!!!!!……
    O que conseguimos e um sorrisinho amarelo, e caimos fora do local direto para um pote de sorvete..rsrs….

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