
Por Renata Poskus Vaz
Quando ele disse com todas as letras que não me queria mais em sua vida, meu coração se despedaçou. Entrei em depressão profunda. Não comia, não sorria… Não vivia. Foram meses trancada em um quarto escuro, deitada, torcendo para que o dia passasse rápido e eu conseguisse adormecer novamente. Era só dormindo que eu podia esquecer a tristeza e a vergonha de ser o que eu realmente era: uma gorda rejeitada.
Talvez esse tenha sido o primeiro momento em minha vida em que eu tenha me sentido, de fato, um lixo. Eu estava convencida de que era insuficiente como mulher. Em três anos de namoro, ouvi diversas vezes o quanto a sua ex-namorada era melhor, mais legal e mais bonita do que eu. E o pior, ao mesmo tempo em que aceitava por anos todas as ofensas travestidas de sinceridade masculina, ainda amava a cada dia mais aquele homem. Amor? Será que era amor?
Após o fora e os meses de reclusão, não lembro ao certo do dia em que enxuguei as lágrimas e me levantei. Estava cansada de estar cansada. Estava cansada de esperar pelo dia em que aquele homem se arrependeria e viria atrás de mim. Olhei no espelho e vi que não tinha jeito. Ou me recuperava e aprendia a seguir sozinha, ou morreria.
De volta à vida, transformei aquele antigo amor em pesadelo, atribuindo ao ex-namorado o papel de vilão que fez pouco dos meus sentimentos e me criticava sem dó nem piedade.
Depois de alguns anos de separação, já em outro relacionamento, amando e sendo amada de verdade, finalmente tive estômago para voltar a falar com meu ex-namorado. Acreditava que o fato de não termos dado certo como amantes, não anularia a possibilidade de sermos bons amigos. Temos amigos, trabalho, tantas coisas em comum…
Comecei a pensar que talvez tivesse sido injusta com aquele homem no passado. Atribuía a ele a depressão pela qual passei, minha baixa-estima, minha total falta de amor próprio. Pensei que poderia, de fato, ter criado um pesadelo em minha cabeça para justificar a rejeição pela qual eu havia passado. Será que o transformei em bicho-papão no meu conto de fadas? Será que estava exagerando?
Pensei que já que amo e sou amada por outro homem, não havia mais motivos para crucificar um ex-namorado.
Recentemente o reencontrei. Após o tradicional “boa noite”, a primeira coisa que ele me disse foi: “Nossa, Renata, vi uma foto sua em um Fashion Weekend Plus Size… Meu Deus, como você estava gorda, como você foi ficar daquele jeito?”. Ao ver minha cara de “cale a boca ou vou te matar agora”, tentou consertar: “Mas agora você emagreceu, está bem melhor”.
Minha primeira reação foi segurar as lágrimas e baixar a cabeça, como passivamente eu fazia na época em que namorávamos. Mas não. Não havia mais espaço em minha vida para submissão. Então, disse: “E o duro é ouvir isso de um cara que está ficando careca e que é velho, feio e pobre! Mas fico feliz em saber que você gasta seu precioso tempo olhando minhas fotos recentes na internet”.
Acostumado com uma Renata subserviente, ele se assustou com o que e como ouviu. Ficou calado, sem graça e se sentindo ridicularizado pelas gargalhadas que minha irmã não conseguiu conter ao ouvir minha resposta. Aquele jeito que ele falou comigo me fez ter certeza de que não fui injusta e de que não fantasiei sobre os anos de humilhação que passei.
A errada, claro, fui eu que aceitei sem reclamar as ofensas por todos aqueles anos. Eu não era propriedade dele, não nascemos grudados… Vivi uma espécie de síndrome de Estocolmo, em que a vítima se apaixona por seu algoz. E se fui rejeitada um dia por um homem é porque antes, muito antes, eu mesma me rejeitei, me abandonei.
Ao chegar em casa, após muito refletir, vi como Deus age de forma maravilhosa em nossas vidas. O término daquele relacionamento me libertou para que eu me redescobrisse como mulher e, depois, conhecesse uma nova pessoa e vivesse um amor de verdade. Não é um relacionamento perfeito, mas o amor é. Embora vez ou outra tenha minhas recaídas e permita que baixe em mim aquela síndrome de gorda rejeitada, logo volto a ser a Renata de sempre. A Renata que jamais deixaria de novo ser comparada com qualquer mulher que seja, que não permitiria ser humilhada, depreciada, hostilizada.
Não quero agora entrar no mérito sobre qual tipo de homem consegue namorar por tanto tempo uma mulher sem amá-la e respeitá-la como deveria. Arrisco dizer que apenas homens inseguros, que se achem insuficientes e incapazes de manter uma mulher ao seu lado são capazes de humilhá-las tanto. É como se quisessem convencê-las de que são ruins como eles. Mas isso é uma conversa longa, para outra hora.
E vocês, já se sentiram assim?
Curtir isso:
Curtir Carregando...