Por Renata Poskus Vaz
Não há como esquecer das duas primeiras décadas de minha vida, em que fui totalmente escrava da balança, contando cada caloria consumida, extravasando todo esse controle em compulsões alimentares repentinas, fortes, seguidas de arrependimento, culminando em uma total e torturante falta de amor próprio.
Mas finalmente entrei em uma terceira década de vida, a do orgulho gordo. A década de minha plenitude como mulher. Realizada em diversos aspectos, sobretudo profissionalmente, e finalmente feliz com o corpo que tenho. Transformando uma aceitação de minha própria imagem, em uma relação de amor e paixão por meu próprio corpo. Uma surpreendente relação de aceitação e admiração por minhas curvas, celulites e cada pedaço que me compõe.
Fiz amizade com centenas de mulheres maiores do que eu, em orgulho, altura, peso, medidas. Ter amigas gordas me mudou na medida em que consegui perceber que mulheres ainda mais pesadas do que eu eram imensamente mais felizes também. E se algumas delas (mesmo com as limitações que um corpo gordo podem, eventualmente, apresentar), não se intimidavam, não se abatiam, se sentiam poderosas, eu também poderia ser e me sentir assim.
E eis que nessa onda de orgulho gordo, deixei de ser escrava da balança e me recusei se quer a visitá-la, dar um oizinho, de vez em quando. Engordei mais de 20 Kg em 4 anos (desses 20 Kg, emagreci 11 desde setembro de 2013). E fiquei muito doente.
O mais curioso é que o meu caso, infelizmente, não é isolado. Muitas (muitas mesmo!) mulheres que se encontraram em blogs plus size, eventos, grupos de amigas plus etc, engordaram. Sentir-se igual, pertencente a um grupo, livre de preconceito, faz com que a gente se descuide da própria saúde.
Essa entrada no “mundo plus size” faz com que deixemos de ter apenas as amigas magrinhas como parâmetro de beleza, fechamos os ouvidos para comentários maldosos alheios, nos libertamos da culpa de comer o que queremos… E engordamos mais e mais e mais.
Não é a toa que, recentemente, muitas gordinhas iniciaram seus “projetos panicat” com malhação e reeducação alimentar, ou preparações para cirurgias bariátricas.
Todo mundo engordou.
Como nunca defendi aqui a obesidade, fico preocupada. Já já vamos para a casa dos 40 anos, depois 50 e vamos morrer mais cedo se continuarmos nesse ritmo de “amor próprio” sem cuidado algum com a saúde.
A verdade é que não existe essa, garotas, da gente se amar sem se cuidar.
Não precisamos mais tentar atingir o tal “peso ideal”, nem o corpo das garotas que estampam as capas das revistas femininas. Podemos ter outros referenciais de beleza, mantermos nosso sobrepeso com saúde, prática de exercícios físicos e com uma alimentação de qualidade.
Defendo que mulheres obesas sejam felizes, tenham o direito de se divertir, trabalhar e namorar, vestindo boas roupas, bons calçados… Mas não defendo que ninguém engorde indiscriminadamente, porque é bacana, por estar na moda, ou porque, na cabeça dela, “tanto faz”.
No ano passado, na última edição do Fashion Weekend Plus Size, após 3 dias do evento, perdemos uma de nossas modelos. Com apenas 31 anos, Fernanda Barbosa morreu vítima de aneurisma cerebral.
Ok, você vai me dizer: “isso acontece, pode acontecer com magras também”. Sim, também sei disso. Acontece que grande parte das minhas modelos tem em média 30 anos. E a cada edição elas estão mais gordinhas. Como todas (modelos, consumidoras, blogueiras, leitoras) engordamos juntas, não percebemos, não nos importamos… Mas uma hora as consequências à nossa saúde serão reveladas!
Quero que continuemos sendo bons exemplos. Não quero perder ninguém tão cedo, assim como perdemos Fernanda.
Sei que esse papo é chato. Mas eu preciso pedir: aceite-se como é, admire suas curvas, mas mantenha um peso saudável. E para saber seu peso saudável, consulte um médico camarada, humano e interessado, que realmente analise seus hábitos, histórico familiar e característica físicas e não se limite a te passar um peso retirado de uma tabela velha e totalmente questionável de IMC.
Há alguns anos, por exemplo, passei em um endocrinologista que me garantiu, com todas as letras, que eu jamais poderei pesar os 50 e poucos Kg indicados como meu IMC ideal. Segundo ele, sou descendente de lituanos, cujas mulheres são altas, fortes, com seios fartos e que precisam ser mais pesadas para sustentar o esqueleto forte (é, eu tenho ossos largos! kkkk), e que isso faz parte de minha própria natureza. Ele me sugeriu atingir 74 Kg, para meus 1,72m. Olha só que belezinha!
E, sinceramente, 74 Kg foi o peso com o qual me senti mais gostosa, feminina e saudável em toda a minha vida. Mais do que quando pesei quase 100 Kg e mais do que quando pesei 57 Kg. Ou seja, o que me faz feliz e me deixa disposta e saudável é me manter com sobrepeso e não com um peso considerado “normal”, muito menos com obesidade. Sério, eu não curti ser obesa! E não estou cuspindo no prato que comi, pois quando comecei o Blog Mulherão pesava pouco mais de 70 Kg e jamais incentivei que ninguém engordasse.
Encontrar esse “peso ideal” não é fácil. Mas é necessário.
Espero que se cuidem sempre. Seremos eternamente mulherões. Mulherões saudáveis.
E como sempre defendi: vamos ter orgulho de quem somos, de nossa essência, orgulho de sermos mulherões em todos os sentidos e não apenas o orgulho gordo. 🙂
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