As gordas chatas e a mídia

Por Cíntia F Rojo

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Lembram da polêmica envolvendo a Melissa McCarthy na capa da revista ELLE americana? Pois na edição de fevereiro, também com múltiplas capas, a publicação voltou a ser alvo das críticas. Mindy Kaling, atriz, comediante, produtora e roteirista, foi fotografada com outras beldades da televisão americana. Mindy foge dos padrões estéticos da indústria do showbizz: não se enquadra no padrão esquelético da maioria das atrizes, é de origem indiana e não é branca. Ela não é gorda mas a considero um Mulherão com “M” maiúsculo por ser reconhecida não só entre atores, roteiristas e produtores mas, principalmente, entre os comediantes norte-americanos – um universo essencialmente masculino.

Eu, particularmente, achei a capa super linda mas várias pessoas se manifestaram contra a publicação alegando que a foto, em preto e branco e com enquadramento no rosto e não no corpo, fora pensada para não mostrar demais a atriz. A própria Mindy, em seu twitter, disse que se achou “cool” (algo como o nosso bacana) e se mostrou bem feliz com o resultado das fotos.

Então, conversando desprentesiosamente com uma amiga comentei o assunto e ouvi: “mas você não acha que as gordas estão ficando muito chatas?”. Tirando o fato dela ter se referido às gordas como se eu não fosse uma – fato que achei engraçado – confesso que  esse questionamento ficou martelando na minha cabecinha grande por vários dias.

No começo de tudo, reclamávamos que as gordinhas não estampavam as capas das revistas femininas. Então elas começaram a aparecer – com alguns deslizes, é verdade – mas está se tornando cada vez mais frequente ver artistas e celebridades com manequins maiores em fotos bem feitas e produção de alto nível.

Eu adorei a capa de Mindy e tenho que admitir que a Elle está mandando muito bem ao colocar Mulherões como ela e Melissa nas suas edições especiais. Mas conheço “ativistas” plus size que reclamaram, sistematicamente, de cada uma das aparições das estrelas gordinhas em veículos de mídia populares e, sim, elas ficaram marcadas como gordas chatas. Ao invés das reclamações, então, porque não dar audiência e prestigiar? Será que dessa forma não vai ficar mais evidente que o público é receptivo e apóia a diversidade de manequins na mídia? O que vocês acham: no ponto em que o segmento plus size se encontra, no Brasil, ainda precisamos bater o pé e apontar o dedo para ver mais mulheres gordinhas na mídia ou é o momento de mudar de estratégia e prestigiar a aparição dos Mulherões-Celebridade?

(Foto: Internet/Divulgação)

7 Comentários

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7 Respostas para “As gordas chatas e a mídia

  1. A maior chatice do mundo da gordolândia é o tal do “mas você nem é tão plus assim”. Esses rótulos de “mais” plus e “menos” plus é doentio.

  2. Josi

    Hum…Já que você tocou no assunto…sim, eu acho que tem umas gordas super chatas por aí. Eu mudei a minha mentalidade e minha auto estima lendo os post deste blog. Mas só leio o Mulherão pq tem umas blogueiras que publicam umas coisas sem fundamento. Elas afirmam que tem auto estima mas ficam dizendo o tempo todo que não se troca por uma magra…Gente!!! Me corrijam se eu estiver errada: quem tem boa auto estima não menospreza e não se compara com ninguém. A pessoa se ama e pronto!!!!

  3. Super concordo com a Josi, pois é como se tivéssemos um “problema” e, para vivermos, precisássemos ficar tocando no assunto toda hora para afirmarmos para nós mesmas que superamos aquilo. É gorda e se aceita? Pronto! Não tem que ficar menosprezando quem é magro ou ficar questionando a gordinha que quer emagrecer. E sobre o questionamento da Renata, acho que a situação Plus size no Brasil, na minha opinião, ainda precisa de muita luta. Creio que devamos sim bater o pé e exigirmos mais gordinhas na mídia, independente de ser “mais” ou “menos” plus!

  4. Marcella Betti

    Fiquei pensando aqui: se a ideia de colocar mulheres como a Mindy é sair do padrão “convencional” e mostrar mais diversidade de maneira positiva, porque não também colocar uma pose ou enquadramento diferente do de sempre? Entendo o argumento que questiona se não quiseram esconder a atriz, mas ao mesmo tempo, há meses atrás a polêmica era o oposto: “modelo plus-size só se estiver nua?”. Num primeiro olhar achei a capa da Mindy belíssima, bem diferente da capa com a Melissa McCarthy.

  5. Deborah Sá

    Todo desejo é construído socialmente sendo permanentemente reiterado, revisto, metamorfoseado, assim também acontece com a nossa auto-imagem, logo, queremos representatividade midiática, mas, em quais condições? A analogia que faço é com o beijo gay na última novela da Globo, teve sua importância, mas, ambos os personagens eram brancos e ricos, sem contar que em comparação com outros personagens da trama, o beijo foi bem mais “comportado”. Há mulheres gordas nas capas de revista? Ótimo, mas quais ícones são aceitáveis? Brancas, jovens, cabelo liso. Se a questão é exatamente a representatividade, convenhamos que se tirássemos por padrão o que vemos nas bancas de jornal, vivemos em um país que não o Brasil.

    Isso não significa “achar defeito em tudo”, ou “não reconhecer os bons frutos” que algum nível representatividade trás, trata-se de exercício de reflexão permanente sobre “como” essas coisas acontecem e suas consequências.

  6. Beatriz Fraga

    Acho que temos que lutar e prestigiar a aparição das Plus Size nas mídias. Ainda tem que mudar muita coisa, por exemplo para quem mora em cidades grandes pode ser até fácil encontrar roupas plus size na moda e etc, mas quem mora no interior como eu não é tão fácil assim. Acredito que o mercado evoluiu bastante, mas ainda tem um longo caminho a ser trilhado.
    Odeio tanto as gordas quanto as magras chatas. Cada um tem que ser feliz com seu corpo. Não é esse o princípio do ativismo plus size?

  7. Marilia Pierre

    Atrizes como Melissa e Mindy tem um diferencial e não é o peso, não é a origem indiana, é o seu TALENTO. E diferentemente do que a mídia e a indústria do entretenimento impõe para a maioria das mulheres, eles não precisam vender e expor o seu corpo de maneira sexual para atrair a atenção.
    Como mulher, tenho orgulho destas capas porque elas não só quebram um padrão de beleza opressor, mas não utilizam da linguagem de mulher-objeto para passar sua mensagem.
    Reflitam sobre isso, plus size ou não, você quer continuar esse modelo sexista?

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