Por Renata Poskus Vaz
Nunca vou me esquecer de um dia em que assisti em um desses programas jornalísticos policiais de TV, em que um pai preso por estuprar a filha de 12 anos, disse: “não sou de ferro. Ela ficava me provocando andando pela casa de camisolinha”. Fiquei chocada com a justificativa do estuprador doente mental.
E não é a toa que ainda tem muita menina que é proibida pela própria mãe de ficar em casa de shortinhos curto, porque tem primos ou irmãos “homens em casa”. Parece absurdo, mas isso existe! Meninas já nascem vítimas em potencial para um estupro. E as mesmas mães que as “protegem”, aceitam a probabilidade de seus filhos virarem abusadores, como se fosse coisa normal de homem, uma simples molecagem.
Mesmo quem nasce em uma família com um pouco mais de cultura e esclarecimento (não que não existam abusadores letrados!), cresce ouvindo: “vai sair com essa saia? Depois não reclama se for estuprada!”. É uma cultura que a gente quase não percebe. A gente acaba evitando sair com determinada roupa para não ouvir cantadas ou para diminui as chances de sofrer qualquer tipo de aborrecimento ou violência. Mas a verdade é que ninguém está livre de ser estuprada, com saia curta ou longa, roupas largas ou justas, todas somos vítimas de estupro em potencial.
Nesta semana pesquisa do Ipea – o Instituto de Política Econômica Aplicada, ouviu 3.800 pessoas de todo o país. Nela, 61,5% dos entrevistados disseram que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas e 58,5% afirmaram que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. O mais triste nisso tudo é que as mulheres foram mais da metade dos entrevistados para a pesquisa.
É absurdo ver que essa visão também parta de mulheres. Esse preconceito tem que acabar entre nós mesmas!
A gente não tem que aceitar a ideia de que homens são animais irracionais que agem por instinto e que não conseguem se conter ao ver uma mulher de saia curta. E que a mulher, sabendo disso, não pode “provocá-lo”. Homem tem cérebro, capacidade de autocontrole, lívre arbítrio e não detém o direito de violentar quem quer que seja, mesmo que essa mulher ou menina esteja com roupas ousadas, decotadas, curtas etc..
Estamos organizando um grande mural no Facebook com fotos de nossas leitoras segurando cartazes com a frase: “eu não mereço ser estuprada”. Ok, isso não vai acabar com a violência hoje, mas as nossas fotos podem ajudar a conscientizar as pessoas. Participe!
p.s: Depois que publicamos a primeira foto no mural, o DJ Nando Portugal, após ser marcado por sua esposa, escreveu: “quem vai querer estuprar isso?”, como se fosse um favor para nós, mulheres, sermos estupradas. Como se nos sentíssemos lisonjeadas por sermos violentadas por desconhecidos. Se era uma brincadeira, como ele posteriormente afirmou, foi uma brincadeira infeliz, em um momento super inoportuno. E o cara não pensa que isso atenta até mesmo para a carreira dele. Pois se sou um contratante, em uma festa em que vá mulheres, não vou querer a presença de um DJ que acha normal o estupro, que faça piadas com isso.