Por Renata Poskus Vaz
Uma revolução tem acontecido no mundo plus size. Muitas gordas tem virado ex-gordas e não sabendo como lidar com o novo corpo e nem mesmo com os elogios que recebem por ter emagrecido.
Como as gordas faziam para emagrecer, há alguns anos?
Há alguns anos, nossa opção para emagrecer se restringia à reeducação alimentar (que se fosse fácil de aplicar em nossa vida, não existiriam tantos gordos no mundo). A gente até sabe o que comer, como comer e a que horas comer, mas o trabalho, a rotina e o preço dos alimentos saudáveis são grandes impeditivos. Hoje, um pé de alface custa mais do que um pacote de macarrão que serve a família inteira. Comer no Mc Donalds custa R$20, mas você gasta o dobro disso por um copo de suco sem corantes, açúcares e aditivos, uma salada, legumes e um grelhado. Se você ficar sem comer para reduzir os gastos com alimentação saudável, não estará se reeducando e colocará a saúde em risco. Um pote de vitaminas, essenciais para suprir carências vitamínicas de quem está em processo de emagrecimento, não custa menos de R$60. É necessário sim ter dinheiro para a reeducação alimentar
Outra opção era a ingestão de medicamentos para controle do apetite. Tomar remédio às vezes é necessário, principalmente em casos de ansiedade extrema que ocasionam compulsão alimentar (que funciona como um vício em drogas ou bebidas alcoólicas). É preciso domar a cabeça para o corpo e mente aceitarem a ingestão reduzida de alimentos. Mas caso você não tivesse um convênio médico, pagar endocrinologista, exames, fórmulas, nutricionista, psicólogo etc era privilégio de poucas. Muitas, então, recorriam a remédios pelo mercado negro. Colocavam a saúde em risco. O resultado, quase sempre, era engordar em pouco tempo tudo o que perdeu e mais um pouco.
Pouco se falava da cirurgia bariátrica, que não era feita por planos de saúde e o valor cobrado por ela era um absurdo!
Ser gorda vira moda
Por volta de 2009, mais ou menos quando o Blog Mulherão surgiu, ser gorda virou moda. Cansadas de tomar remédios para emagrecer ou de fazer dietas que sempre fracassavam, milhares de mulheres deram seu grito de independência. “Amo minhas curvas” virou mantra. Não que todas acreditassem mesmo que pudessem ser lindas, felizes e bem-resolvidas acima do peso, mas repetir isso incessantemente fez com que ataques alheios e sugestões de emagrecimento fossem diminuindo até que, de fato, algumas gordinhas recuperassem a autoestima.
Algumas viraram modelos, outras misses e outras simplesmente tomaram uma injeção de amor próprio sem a necessidade de títulos ou reconhecimento alheio.
Muitas aprenderam que é possível ser uma mulher saudável, ativa e linda mesmo com alguns quilos a mais.
Enfim, a democratização da bariátrica
Inicialmente, apenas obesos mórbidos, com saúde realmente crítica e debilitada recebiam encaminhamento para a cirurgia. Hoje, qualquer mulher acima do peso, que se entupa de churrasco um dia antes dos exames de sangue e eleve um pouquinho o índice de colesterol já consegue o encaminhamento. Se você reclamar de dor nas costas ou dizer que tem mãe e avós gordos e com diabetes, então, vai mais rápido para a cirurgia. Isso pelo convênio ou por pagamento particular.
A bariátrica virou uma indústria rentável, a cirurgia apresenta riscos mínimos. Mas não, não é fácil para a gorda passar por ela. A maioria que não faz tratamento psicológico antes e mesmo após a cirurgia mantém crises de ansiedade e compulsão, transferindo para outros vícios como sexo, drogas e álcool. : “vou amarrar seu estômago e quero ver você enchê-lo novamente de leite condensado, sua gorda!”, é mais ou menos assim que funciona para alguns a cirurgia. É como uma agressão. Mudam seu corpo, mas não sua mente.
Pera lá, não sou contra a cirurgia, sou contra esse glamour, essa facilidade toda, sou contra recorrer a ela antes de se esgotarem todas as alternativas de um emagrecimento saudável.
As gordas que viraram ex-gordas
Mas enfim, com essa facilidade de emagrecer em tempo recorde, muitas gordas que conhecemos, incluindo blogueiras, donas de lojas e modelos plus size recorreram à cirurgia bariátrica e atingiram o peso com que tanto sonhavam anos atrás. Poucas, pouquíssimas, na verdade conheço umas 3 apenas, assumiram terem operado.
Ai me pergunto o porquê dessas mulheres esconderem que optaram pela cirurgia. Tudo bem omitir, ninguém é obrigado a fazer da própria vida um Big Brother. Mas mentir pra quê?
Quando vejo ex-gordas que passaram por bariátrica mentindo que operaram rins, vesícula ou a unha do dedão do pé, e dizem que emagreceram 20, 40 Kg em 2 meses com reeducação alimentar, acho uma crueldade com outras mulheres. As seguidoras dessas ex-gordas famosas se sentem incompetentes por não conseguirem esses resultados surpreendentes também.
Por outro lado, compreendo os conflitos que vivenciam essas ex-gordas. “Se antes eu dizia que me amava gorda, ao assumir que fiz bariátrica vão dizer que eu mentia antes”. Sim, alguns dirão, porque tem gente que não tem mesmo o que fazer. Mas a maioria compreende que somos seres pensantes, que vivem e aprendem e mudam de opinião. Você pode ser uma gorda saudável hoje e não ser mais amanhã. E se decidir emagrecer, não importa por que via, não importa por qual motivo, é um direito seu. Mas se for usar seu emagrecimento para autopromoção, seja sincera.
“Parabéns por ter emagrecido!”
Diversas vezes vi ex-gordas reagindo com rispidez a um simples: “Parabéns por ter emagrecido!”. Quando te elogiam, nem sempre estão querendo dizer que você está melhor magra do que gorda, nem nada parecido. Não estão sendo irônicas e nem pensando: “finalmente você se tocou e emagreceu”.
A pessoa apenas encara que se você emagreceu, sem ser por reflexo de uma doença grave, que merece parabéns por ter sido perseverante, por ter se dedicado, afinal, todo mundo sabe que fazer dieta, ou bariátrica ou mesmo tomar remédios, não é fácil. Concessões tem que ser feitas, em todos os casos. E isso merece mesmo parabéns.
Da mesma forma quando engordo e alguém me “avisa” também agradeço, transformando a crítica em um elogio. rsrsr
Para quem continua gorda, assim como eu…
E eu que era uma das mais magras entre as modelos, amigas e blogueiras plus size, de repente me vi ficando mais gordinha. Não só porque ganhei um quilinhos nesses últimos anos de aceitação, mas também porque algumas delas optaram por emagrecer. Não fiz contrato para ser gorda eternamente, pode ser que um dia emagreça (se acontecer, que seja por escolha e não por doença), mas continuo amando minhas curvas, o bumbum grande que só o sobrepeso me dá, os seios fartos que transbordam pelo generoso decote. As maçãs do rosto salientes e coradas. Amo minha barriga positiva e o movimento dos meus quadris quando ando.
Sou feliz assim, mas se um dia eu sucumbir a essa onda de emagrecimento recorde (diferente do meu engorda e emagrece sutil de sempre), vocês saberão. ❤ ❤ ❤
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