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Bariátrica não é cirurgia de remoção de unha encravada

Por Renata Poskus Vaz

Hoje escrevo não como jornalista ou blogueira, mas como amiga preocupada com a quantidade de pessoas queridas que operaram ou estão na fila de espera para reduzir o estômago sem aparentarem real necessidade.

Aqui nunca critiquei quem optasse emagrecer ou engordar. Faço com frequência textos sobre cirurgia bariátrica, emagrecimento com remédios e reeducação alimentar. Eu mesma tenho noticiado meu desejo em reduzir um pouco o meu peso para recuperar minha saúde que estava debilitada.

Então porque essa minha preocupação com quem reduz o estômago?

Eu acreditava que Bariátrica fosse indicada para obesos mórbidos, como no caso de Roberta Terra, cuja história foi relatada aqui no Blog Mulherão (leia). Pessoas com IMC acima de 40, com muitos problemas de saúde associados e que esgotaram (e fracassaram!!!) todas as chances de um emagrecimento saudável.

De repente, dezenas de amigas minhas mulherões, Com corpo curvilíneo, bem longe da obesidade mórbida, que nunca tiveram problemas de saúde sérios, se renderam à cirurgia bariátrica. Muitas delas nunca tiraram a bunda do sofá para se exercitar. Nunca andaram a pé, nunca nem se quer tentaram reverter essa situação.

Fazer bariátrica virou a mesma coisa que remover unha encravada. Dói um pouquinho, mas você vai lá, fala com o médico, ele topa te operar e seu problema acaba.

Quando as indago, como amiga, sobre a real necessidade de uma cirurgia de redução de estômago, elas me respondem que têm histórico de diabetes e pressão alta na família (elas mesmo não têm) e que fizeram consultas com psicólogos, gastros etc… Tudo isso em 2, 3 meses. Isso não existe! Antigamente o processo que levava um obeso da análise de um corpo clínico até a decisão de realmente operar levava anos. Isso não pode ser decidido em meses.

O problema, minhas amigas, vai além da operação. Toda operação (mesmo a da unha encravada) tem riscos de morte. Mas bem pior do que isso é que somos gordas por algum motivo que vai bem além da nossa simples compreensão. Na maioria das vezes esse motivo se chama COMPULSÃO ALIMENTAR e OCIOSIDADE, que tem origem emocional. Ao operar o estômago, não se opera também a cabeça. Passada a felicidade inicial do corpo magro e se mantendo ou recuperando os mesmos velhos hábitos, o corpo volta a engordar.

Conheço dezenas de ex-gordos que operaram o estômago e voltaram a engordar.

Não existe milagre. E o que vejo é que a cirurgia bariátrica, mais do que uma intervenção cirúrgica para preservar e recuperar a saúde de pessoas terrivelmente doentes, está virando uma cirurgia estética.

Fica aqui meu desabafo, amigas. Antes de entrarem na faca para ficarem bonitas na foto de ano novo, tentem levantar, praticar exercícios e mudar a alimentação. Procurem um psicólogo para ajudá-las a mudar suas relações com seus corpos, consigo mesmas, com a vida e com a comida. Não procure o psicólogo apenas para te dar um atestado indicando sua cirurgia.

Update: Leiam essa interessantíssima matéria do Diário de Pernambuco:

“Empresária morre após cirurgia de redução de estômago”

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Espaço da leitora: Roberta Terra conta sobre o resultado de sua cirugia bariátrica

Roberta Terra agora (com manequim 46) e em 2009, com seu manequim 58

“Olá, meu nome é Roberta e tenho 25 anos. Fiz a cirurgia bariátrica em 18/07/2011 e eliminei 35 kg, e hoje sou uma gordinha feliz! Sim, gordinha, porque mesmo tendo eliminado uns bons kilos, ainda estou bem acima do meu peso ideal. Ideal dentro dos parâmetros do IMC, porque pra mim está perfeito assim.

Toda minha vida fui gordinha, mas até 2009 aproveitava minha vida, saía com os amigos, ria, me divertia e ficava horas em lojas experimentando roupas. Eu gostava de ser o que era, mas como quase toda mulher e adolescente, tentava dietas pra emagrecer. Eram dietas temporárias que me faziam engordar em tempo recorde assim que ela acabava.

Meu maior aumento de peso aconteceu há uns três anos, quando passei pelo momento mais difícil da minha vida. Após perder a minha irmã, fui aprovada em um concurso público em outra cidade.  Precisava continuar minha vida. Mudei e fiquei por 2 anos e meio longe de casa, dos meus pais e dos meus amigos. Hoje sei que fiz a escolha certa naquela ocasião, mas na época ficar sozinha após uma perda familiar tão grande me fez me jogar na comida. O resultado foi 25 kg a mais durante um ano.

Eu escondia toda a minha solidão e sofrimento dos meus pais. Notei que realmente essa compulsão que eu tinha pela comida era uma doença que já estava me afetando física e psicologicamente. A comida foi por um bom tempo a minha companheira numa época em que eu estava totalmente depressiva.

Em 2010, minha mãe me incentivou a fazer mais um tratamento pra emagrecer. Perdi 20 Kg, mas ao fim da dieta acabei engordando mais 10 Kg. Foi aí que me conscientizei que precisava fazer a cirurgia bariátrica. Eu estava totalmente infeliz com a minha situação e não agüentava mais viver assim. Eu sabia que precisava de uma mudança radical na minha vida.

Foi aí que comecei a pesquisar pela cirurgia bariátrica. Li tudo que pude, como seria o pré e o pós-operatório e, então, marquei minha primeira consulta com o médico que esclareceu minhas dúvidas. Também conversei com muitos que já haviam operado. No início minha mãe foi meio contrária a cirurgia. Eu até entendia o medo dela. Sei que ela não suportaria perder mais uma filha.

Confesso que tive medo de algo na cirurgia dar errado, mas o médico sempre deixou claro que o risco de acontecer algo com a cirurgia é bem menor do que o risco de acontecer algo comigo se eu continuasse daquele tamanho e com aqueles maus hábitos alimentares. Isso me tranqüilizou. Até o dia da cirurgia eu estava calma, Quando o enfermeiro pediu pra eu deitar na maca pra me levar pra sala de cirurgia, meu coração quase saiu pela boca. Fiquei muito nervosa, porque mesmo estando em ótimas mãos, eu não sabia exatamente o que me esperava. No fim, ocorreu tudo bem durante a cirurgia.

Descobri que o pior da cirurgia ainda estava por vir: a dieta líquida. Por isso, passar com psicólogos antes de operar é fundamental. Não é fácil quando você tem que enfrentar 28 dias sem mastigar absolutamente nada, quando vem de uma vida inteira vem de uma vida inteira se jogando na comida como se ela fosse a cura de todos os seus problemas. Fui bem forte e não sei como agüentei. Realmente tive que reaprender a comer, como um neném mesmo. Primeiro ingeria liquido, depois só comidas pastosas e mais molinhas, até ser liberado a chamada comida sólida, para mastigar. É uma verdadeira reeducação alimentar, onde você tem que priorizar o que vai te fazer bem.

Com a cirurgia e dependendo da técnica (a minha foi a Capella sem anel), nós ficamos mais propícios a falta de vitaminas. Então é essencial saber qual alimento escolher, e como não conseguimos comer muito, temos a vantagem que na maioria das vezes nem sobra espaço pra uma porcariazinha, rs. Mas claro que uma vez ou outra podemos comer aquilo que vem na cabeça, algumas pessoas depois de operadas não se dão bem com alguns alimentos, que em geral são carnes, comidas muito gordurosas e coisas doces. Eu não tive esse problema e não sei se é bom ou ruim. É bom porque eu posso comer o que quiser sem passar mal. Ruim porque não tenho algo que me breque pra comer a não ser única e exclusivamente o meu bom senso. Hoje eu já como tudo, só optei por não beber mais refrigerante. Estou há 8 meses sem beber e não sinto falta. Hoje, sou adepta das frutas e verduras. Também como pipoca e lanches, mas sem exagero.

Sou a favor de você se sentir bem como você é. Mas quando o seu físico prejudica a sua saúde e a sua vida, você deve procurar mudanças. Antes eu usava manequim 56/ 58.  Hoje já estou no 46 apertadinho, rs. Um dia eu chego no meu sonhado 46 folgado. Não tenho pretensão alguma de ser magra. O melhor eu já consegui, que foi aprender a comer, usar a comida a meu favor e não contra mim.

Meu próximo passo é fazer algumas cirurgias plásticas, pois com o emagrecimento muitas pelanquinhas surgiram. Antes eu não me via tão gorda e me assustei quando participei do Dia de Modelo em dezembro de 2009. Mesmo com todo empenho de todos, eu chorei ao me dar conta que estava daquele tamanho. Não me reconhecia como a gordinha de anos atrás. Em janeiro deste ano, fiz novamente o Dia de Modelo e também me assustei porque não sabia que podia ser tão bonita. Agora sim eu me reconheço como um mulherão!

 Quem quiser tirar mais dúvidas comigo sobre a cirurgia, como foi o pré e o pós, eu fico a disposição.

Roberta Terra

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