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Retenção de líquidos? Não, você está gorda mesmo!

retenção de liquidos 1

Por Renata Poskus Vaz

Como vocês sabem, eu trabalho com modelos plus size. É comum contratar uma modelo e só na hora do trabalho percebo que ela está 2 manequins maior do que aquele que ela informou ao se candidatar para a vaga. Tenho que ser rígida. Se estou contratando uma modelo manequim 50 não posso receber uma 46 e nem uma 54. Então, indago (se bem que a resposta é óbvia, mas pergunto mais para justificar um possível corte): “engordou, fulana?” e a modelo responde: “não, é que estou para ficar menstruada e estou retendo líquido”.

A desculpa não rola. Primeiro porque modelo assume um compromisso com seus contratantes, ela precisa manter medidas para trabalhos, não pode nem engordar e nem emagrecer (poder pode, mas deve atualizar material e fornecer sempre medidas atualizadas) ou então tentar outra profissão. Muitas roupas são confeccionadas na medida exata da modelo e oscilações severas de peso, seja para baixo ou para cima, podem estragar toda uma produção. Sim, o mundo da moda é rígido e não perdoa nem as gordinhas.  Se as modelos plus size querem ser tratadas como iguais, devem se adequar à essas exigências.

Além disso, nós, mulheres, menstruamos todos os meses. Então se o inchaço é tão severo a ponto de te fazer reter líquidos todos os meses de forma tão exagerada, o melhor a se fazer é procurar ajuda médica. Afinal, uma retenção de líquidos drástica pode desencadear outros problemas graves de saúde.

Quer um exemplo?

Eu sou gorda, mas também tive uma crise séria de retenção e ainda investigo possíveis  problemas circulatórios. Este é  meu lindo pezinho (nojento!) no início do ano:

pé

Você que não  é modelo plus size, não tem um compromisso de manter medidas com ninguém. Se você não tem retenção de líquidos, ou se tem mas não o suficiente para engordar tanto em tão pouco tempo, não use isso como desculpa para o fato de estar gorda. Você não precisa mentir ou se envergonhar de ter engordado. Você  não vive do seu corpo e ninguém paga as suas contas!

Se alguém, no dia a dia, te perguntar se engordou, em uma situação que não vá fazer diferença alguma para quem está te perguntando, não se justifique como se você fosse culpada por estar acima do peso. Não invente doenças e síndromes. Você é uma mulher comum,  não é modelo, tem o direito sobre seu corpo e sua saúde. Não estou cobrando que você seja uma militante da banha, apenas não minta para os outros e para si mesma.

Você pode ficar quieta,  ignorar a pergunta, ou na lata dizer que o cara é um intrometido. Eles já imaginam o porquê de você estar gorda, só estão testando a sua sinceridade. 😉 Ninguém assume os brigadeiros que come, masbota a culpa na retenção hídrica. Seja sincera com você! O resto, é  apenas resto. 🙂

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Orgulho gordo diverte, mas engorda

Por Renata Poskus Vaz

Não há como esquecer das duas primeiras décadas de minha vida, em que fui totalmente escrava da balança, contando cada caloria consumida, extravasando todo esse controle em compulsões alimentares repentinas, fortes, seguidas de arrependimento, culminando em uma total e torturante falta de amor próprio.

Mas finalmente entrei em uma terceira década de vida, a do orgulho gordo. A década de minha plenitude como mulher. Realizada em diversos aspectos, sobretudo profissionalmente, e finalmente feliz com o corpo que tenho. Transformando uma aceitação de minha própria imagem, em uma relação de amor e paixão por meu próprio corpo. Uma surpreendente relação de aceitação e admiração por minhas curvas, celulites e cada pedaço que me compõe.

Fiz amizade com centenas de mulheres maiores do que eu, em orgulho, altura, peso, medidas. Ter amigas gordas me mudou na medida em que consegui perceber que mulheres ainda mais pesadas do que eu eram imensamente mais felizes também. E se algumas delas (mesmo com as limitações que um corpo gordo podem, eventualmente, apresentar), não se intimidavam, não se abatiam, se sentiam poderosas, eu também poderia ser e me sentir assim.

E eis que nessa onda de orgulho gordo, deixei de ser escrava da balança e me recusei se quer a visitá-la, dar um oizinho, de vez em quando. Engordei mais de 20 Kg em 4 anos (desses 20 Kg, emagreci 11 desde setembro de 2013). E fiquei muito doente.

O mais curioso é que o meu caso, infelizmente, não é isolado. Muitas (muitas mesmo!) mulheres que se encontraram em blogs plus size, eventos, grupos de amigas plus etc, engordaram. Sentir-se igual, pertencente a um grupo, livre de preconceito, faz com que a gente se descuide da própria saúde.

Essa entrada no “mundo plus size” faz com que deixemos de ter apenas as amigas magrinhas como parâmetro de beleza, fechamos os ouvidos para comentários maldosos alheios, nos libertamos da culpa de comer o que queremos… E engordamos mais e mais e mais.

Não é a toa que, recentemente, muitas gordinhas iniciaram seus “projetos panicat” com malhação e reeducação alimentar, ou preparações para cirurgias bariátricas.

Todo mundo engordou.

Como nunca defendi aqui a obesidade, fico preocupada. Já já vamos para a casa dos 40 anos, depois 50 e vamos morrer mais cedo se continuarmos nesse ritmo de “amor próprio” sem cuidado algum com a saúde.

A verdade é que não existe essa, garotas, da gente se amar sem se cuidar.

Não precisamos mais tentar atingir o tal “peso ideal”, nem o corpo das garotas que estampam as capas das revistas femininas. Podemos ter outros referenciais de beleza, mantermos nosso sobrepeso com saúde, prática de exercícios físicos e com uma alimentação de qualidade.

Defendo que mulheres obesas sejam felizes, tenham o direito de se divertir, trabalhar e namorar, vestindo boas roupas, bons calçados… Mas não defendo que ninguém engorde indiscriminadamente, porque é bacana, por estar na moda, ou porque, na cabeça dela, “tanto faz”.

No ano passado, na última edição do Fashion Weekend Plus Size, após 3 dias do evento, perdemos uma de nossas modelos. Com apenas 31 anos, Fernanda Barbosa morreu vítima de aneurisma cerebral.

Ok, você vai me dizer: “isso acontece, pode acontecer com magras também”. Sim, também sei disso. Acontece que grande parte das minhas modelos tem em média 30 anos. E a cada edição elas estão mais gordinhas. Como todas (modelos, consumidoras, blogueiras, leitoras) engordamos juntas, não percebemos, não nos importamos… Mas uma hora as consequências à nossa saúde serão reveladas!

Quero que continuemos sendo bons exemplos. Não quero perder ninguém tão cedo, assim como perdemos Fernanda.

Sei que esse papo é chato. Mas eu preciso pedir: aceite-se como é, admire suas curvas, mas mantenha um peso saudável. E para saber seu peso saudável, consulte um médico camarada, humano e interessado, que realmente analise seus hábitos, histórico familiar e característica físicas e não se limite a te passar um peso retirado de uma tabela velha e totalmente questionável de IMC.

Há alguns anos, por exemplo, passei em um endocrinologista que me garantiu, com todas as letras, que eu jamais poderei pesar os 50 e poucos Kg indicados como meu IMC ideal. Segundo ele, sou descendente de lituanos, cujas mulheres são altas, fortes, com seios fartos e que precisam ser mais pesadas para sustentar o esqueleto forte (é, eu tenho ossos largos! kkkk), e que isso faz parte de minha própria natureza. Ele me sugeriu atingir 74 Kg, para meus 1,72m. Olha só que belezinha!

E, sinceramente, 74 Kg foi o peso com o qual me senti mais gostosa, feminina e saudável em toda a minha vida. Mais do que quando pesei quase 100 Kg e mais do que quando pesei 57 Kg. Ou seja, o que me faz feliz e me deixa disposta e saudável é me manter com sobrepeso e não com um peso considerado “normal”, muito menos com obesidade. Sério, eu não curti ser obesa! E não estou cuspindo no prato que comi, pois quando comecei o Blog Mulherão pesava pouco mais de 70 Kg e jamais incentivei que ninguém engordasse.

Encontrar esse “peso ideal” não é fácil. Mas é necessário.

Espero que se cuidem sempre. Seremos eternamente mulherões. Mulherões saudáveis.

E como sempre defendi: vamos ter orgulho de quem somos, de nossa essência, orgulho de sermos mulherões em todos os sentidos e não apenas o orgulho gordo. 🙂

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Lembranças de um corpo magro

corpo magro

Por Renata Poskus Vaz

É muito difícil para uma mulher que nasceu magra e recebia na adolescência elogios por seu corpo enxuto, se acostumar com um corpo gordo e com todo o preconceito e dificuldades que cercam pessoas acima do peso. A mulher magra cresce associando magreza à beleza. Sente o gosto de ser desejada, amada e admirada. Na cabeça dela, todo esse prestígio e facilidades se devem unicamente ao seu corpo magro. Quanto mais magra, para ela, mais fácil para ser estilosa, para namorar, para ter amigos, para ser convidada para festas, para ter sucesso profissional… Sem magreza, para ela, não há beleza. Não há felicidade. Não há sucesso.

 Engordar, na cabeça dessa mulher, mais do que um aumento de peso, representa o fim de sua autoestima, de toda aquela satisfação que sentia por ser “bonita”. Engordar significa perder, fracassar.  O primeiro preconceito a ser enfrentado pela ex-magra é o que ela sente por si mesma. Lutar contra a própria vaidade é muito mais difícil do que lidar com o novo corpo de medidas generosas. Convencer-se de que é possível ser feliz acima do peso, ser linda, admirada, amada, ter sucesso profissional é a segunda e mais difícil etapa da fase pós-magreza. A primeira, claro, é a negação inicial acompanhada das tentativas desesperadas de emagrecimento com dietas malucas que colocam a própria saúde em risco.

Levam-se anos para que a ex-magra finalmente desista de tentar emagrecer e reconquistar o corpo magro do passado e, só então, descubra suas verdadeiras potencialidades: seu charme, sua inteligência, atrativos que vão muito além da forma física. Engordar, embora represente um descontrole físico, metabólico e até psíquico, não deixa de ser uma forma dessa mulher equilibrar a própria vaidade e se conhecer de verdade.

Mesmo sabendo que conscientemente ninguém queira e nem precise engordar para descobrir seu verdadeiro “eu” é inegável que as ex-magras aprendem com o novo corpo e os desafios de se estar acima do peso, novas formas de se destacarem.

Nesse aspecto, as “gordas de nascença”, aquelas que desde pequeninas já eram robustas e cresceram engordando, são excelentes exemplos. Óbvio que não podemos generalizar, que existem magras sem autoestima e gordas que sempre foram gordas e que nunca se amaram. Porém, a grande maioria, talvez até por não ter vivido uma existência magra, encara a vida de forma mais bem-humorada, conscientes da beleza singular de seus corpos, felizes, bem-resolvidas.

Falo com experiência de causa. Sou uma ex-magra que fazia muito sucesso com os rapazes e amigos com minha antiga silhueta magra. Porém, só descobri minhas reais potencialidades e verdadeira felicidade com o sobrepeso e tendo como exemplo minhas amigas mais gordinhas. 

Ser feliz e realizada sem o corpo magro do passado é perfeitamente possível.

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