Luizita com sua roupa de gordinha, no Dia de Modelo/ Foto: Katia Ricomini
Por Renata Poskus Vaz
Recebo muitos e-mails de mães gordas e magoadas porque seus filhos as discriminam por causa do peso. Sim, muitas mulheres sofrem preconceito dentro de casa e quando essa discriminação vem dos próprios filhos, pequenas e puras crianças, o sofrimento parece ainda maior. Mãe quer ser exemplo para seus filhos, quer ser admirada por eles.
Não tenho filhos, mas tenho uma irmãzinha linda, de 4 anos chamada Luiza, que me fez entender mais ou menos como funciona essa ideia de como as crianças enxergam pessoas gordas.
Luiza nasceu na mesma época em que o Blog Mulherão começou a fazer sucesso. Eu já tinha 27 anos. Ou seja, ela poderia ser minha filha, mas virou uma espécie de irmãzinha-sobrinha-afilhada-companheira. Por uns dois anos ela morou conosco. Desde pequena sempre foi muito vaidosa e adorava me observar colocando roupas bonitas, salto alto, me maquiando etc.
Ela também sempre acompanhou o Dia de Modelo. Muitas de vocês que já fizeram o Dia de Modelo devem se lembrar da pequena Luizita lá, observando aquele bando de mulheres gordas, felizes, super bem produzidas. Ela também já esteve em alguns Fashion Weekend Plus Size, vendo toda aquela correria, mulheres lindas desfilando… Luiza cresceu com isso, com a ideia de que pessoas gordas se vestem bem, são felizes, charmosas e interessantes.
Uma vez, indagada pela mãe sobre o que queria ser quando crescesse, ela não exitou: “gordinha”. Luiza já fez o Dia de Modelo Plus Size 2 vezes, como participante. E foi enfática: “Tata, separei minhas roupas de gordinha para fotografar”. Acho, que para ela, roupa de gordinha significa roupa bonita. Não sei, de fato, se ela me percebe de verdade maior do que as outras pessoas. Se ela enxerga meu excesso de gostosura como um defeito ou como uma característica qualquer. Na cabeça dela, pessoas tem olhos, cabelos, altura e peso diferentes e isso não precisa de alarde. Todos deveriam pensar assim.
No entanto, o que observo, é que Luiza não tem uma visão diferente do que qualquer criança deveria ter. O que acontece é que ela me enxerga como eu gostaria que ela me visse. Nunca me mostrei para minha irmãzinha como uma gorda triste e derrotada. Recordo-me de uma única vez em que ela me viu chorando, era bem pequena, e se desesperou. Aquilo me serviu de lição. Se ela ficou transtornada ao me ver infeliz, como ficaria ao me ver radiante? Igualmente radiante.
Crianças não tem semancol e testam nossa paciência. Se você se lamuriar por ser gorda na frente do seu filho, ao fazer birra, ele te chamará de gorda. Ele entenderá que ser gorda é um defeito, um ponto negativo seu. Ele dirá que não gosta de ter uma mãe gorda, porque é essa mensagem que você indiretamente passará a ele. Lembre-se que seu filhinho não é seu psicoterapeuta e não precisa presenciar você se autodepreciando.
Como já disse, não sou mãe. Mas fui a primeira neta de quase 20 primos, tenho 3 irmãos mais novos e por isso espero que recebam de coração este meu recado. 🙂