Por Renata Poskus Vaz
Na última semana foi ao ar uma propaganda das Lojas Marisa, em que uma mulher magra aparecia agradecendo à todas as saladas, leguminosas e frutas que comeu durante o ano e que fizeram suas refeições menos alegres, mas que, segundo ela, farão o seu verão mais feliz.
Comigo a repercussão dessa propaganda não foi muito diferente do que, possivelmente, aconteceu com outras blogueiras plus size e formadoras de opinião. Recebi dezenas de e-mails e mensagens em minhas redes sociais repletas de indignação. A grande maioria de minhas leitoras que se pronunciou sobre esse comercial das Lojas Marisa se declarou muito ofendida.
Demorei para escrever esse texto porque eu não me senti ofendida com a campanha e considerava que minha opinião, naquele momento em que os ânimos estavam tão exaltados, poderia não ser compreendida. Sendo assim, eu precisava deixar o tempo passar e entender melhor o que havia magoado tão profundamente as minhas leitoras.
Quando assisti essa propaganda pela primeira vez eu estava vendo novela com meu pai. A música clássica me chamou atenção. Eu, que falava sem parar durante o intervalo da novela, fiquei quieta e prestei atenção na televisão. Foi quando começou o monólogo da modelo, agradecendo às saladas, leguminosas e frutas que a deixaram magra para o verão. Quando vi aquilo, não me senti ofendida e nem discriminada. Olhei para meu pai e disse:
“- Que babaca! Ela comendo mal o ano inteiro para ficar feliz no verão. Eu como coisas gostosas o ano todo, não me torturo como ela e fico feliz o ano inteiro”
Acho que eu estava tão bem naquele dia, me sentindo tão feliz e bonita, que mesmo sendo gorda enxerguei a propaganda da Lojas Marisa diferente do que outras mulheres plus size enxergaram. Naquele momento vi claramente que a Marisa não falava comigo. Falava com uma mulher repleta de neuras, que faz dietas malucas para se manter magra o ano inteiro, assumindo, inclusive, que suas refeições eram menos alegres. Óbvio que ninguém precisa se empanturrar de carboidratos como eu, mas se condenar à tomar sopas ralas é inaceitável! Acho que mesmo que fosse magra, não ia curtir que tirassem sarro das minhas dietas malucas desta forma. Mas teve muita mulher que curtiu, que se identificou e viu seu sacrifício pelo corpo perfeito reconhecido por uma grande marca (digo isso com base nos depoimentos que li no Facebook “Vou de Marisa”).
Embora não tenha gostado da propaganda e tenha achado o monólogo da personagem digna de pena, não me senti ofendida. Ela não falava comigo, ponto. E não creio que lojas de departamento tenham que se comunicar com todos os seus clientes ao mesmo tempo. Às vezes fazem campanhas dirigidas para crianças, outras para adolescentes, outras para homens e outras para mulheres que comem apenas chuchu o ano todo. Um dia, tenho fé, lojas como Marisa, Riachuelo, C&A e Renner farão campanhas só com gordinhas e não quero ler magrinhas reclamando que isso é uma apologia à obesidade. Há espaço para todas.
Isso me fez lembrar das campanhas do desodorante masculino AXE. Vira e mexe colocam em suas propagandas de homens esquisitos, sem muita beleza e pouco charme, atraindo mulheres lindíssimas após passar o desodorante AXE. E eu nunca vi nenhum homem consumidor dessa marca de desodorantes se queixando dos seus representantes no comercial.
Antes que alguém venha com mimimi, fui modelo da Marisa por duas campanhas seguidas (Dia dos Namorados e Dia das Mães) e me orgulho muito disso, mas nada me impede que eu venha aqui e fale o que quer que seja da marca ou de suas propagandas. Além disso, sou cliente das lojas do Shopping Metrópole em São Bernardo do Campo e na da Lapa, em São Paulo. Muitas de minhas leitoras já me viram por lá. Sendo assim, não vou boicotar uma loja, deixar de comprar seus produtos ou encabeçar uma campanha como a “Não Vou de Marisa” porque ela errou em uma propaganda. De todas essas lojas de departamento, ela foi a primeira a investir em moda plus size. Muito antes de C&A, por exemplo, contratar Preta Gil, Marisa já vendia para as gordas. E hoje, lá, existem roupas moderninhas e joviais por um preço camarada. Além de ser o único lugar que eu tenho o prazer de conseguir comprar roupas junto com a minha irmã Barbara, que usa manequim 36.
Na minha opinião, ela merece uma segunda chance. E é por isso que eu continuarei indo de Marisa.