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Mulherão no Lar: Desrespeito no Mercado Extra

Por Renata Poskus Vaz

Vida de diva da gordolândia não é fácil. A gente cuida da unha, cabelo, pele, trabalha, namora e ainda tem que encontrar um espacinho na agenda para lavar, passar, cozinhar etc. Aqui em casa é assim, encosto minha barriguinha farta no tanque e no fogão economizando com a faxineira para ter dinheiro para os sapatos. 🙂 (Classe C sofre, meu bem!)

Pensando nisso, há muito tempo pensava em falar aqui no Blog Mulherão sobre o meu dia a dia de dona de casa e consumidora. Uma nova coluna: “Mulherão no Lar“. Escolhi antecipá-la, infelizmente com um assunto negativo que aconteceu comigo, hoje, no Minimercado Extra da Avenida Paula Ferreira, na Freguesia do Ó.

Estava eu linda, formosa e modesta como sempre voltando do Dia de Modelo quando resolvi passar no Extra e comprar coisas essenciais para a vida, como Amanditas, Danone e Coca-Cola. Na entrada do mercado havia um senhor, provavelmente bêbado, deitado no chão com a giromba exposta. Não que aquilo tenha me chocado, afinal, já vi coisas piores na minha vida (se é que vocês me entendem), mas é uma cena que gera certo constrangimento.

Peguei meu kit hipercalórico de sobrevivência e dirigi-me ao caixa. Percebi que a caixa olhava toda hora para o senhor da giromba exposta. Ela estava tensa, preocupada. Com a maior boa intenção do mundo, disse: “moça, porque você não chama a polícia?”. Ela, então, disse brava (muito brava mesmo, tipo candidata à concurso de Miss Plus Size que não ganha a faixa): “chama você. Ele é um ser humano!”. Aí respirei fundo e lembrei dessa minha nova fase Renatinha Paz e Amor, e disse calma: “a polícia pode chamar o Samu, a assistência social e não necessariamente prendê-lo por atentado ao pudor”. A caixa do EXTRA ficou nervosa, começou a resmungar, me ofender e tal. Eu disse: “você é muito educada sempre comigo, porque está me tratando assim agora?”. Foi quando ela me mandou calar a boca. Isso mesmo, adorável leitora. Calar a boca!

Aí eu fiquei garota de programa da vida! Disse que ela não tinha o direito de me tratar daquela forma. Foi quando ela me mandou tomar naquele lugar. Isso mesmo, naquele lugar pequenininho, sensível, que a gente não sai exibindo por aí. Na hora, quase que eu disse: “Deus te ouça! Faz tanto tempo que não sei o que é isso, tô solteira e precisada”. Mas não consegui.

Mandarem a gente tomar naquele lugar é bem profundo. Dói. Literalmente e subjetivamente. Principalmente quando acontece em um mercado em que frequentamos diariamente. Para mulherões como eu, mercado são pequenas extensões dos nossos lares. É lá que compramos um produto de beleza ou outro que nos deixa mais poderosas, é lá que compramos os alimentos das pessoas mais importantes da nossa vida: a nossa família. É lá que compramos os produtos de limpeza para cuidar e higienizar o nosso lar. É lá que compramos as guloseimas que adoçam ainda mais as nossas vidas. Então, quando reclamamos de um produto vencido na prateleira, ou armazenado errado, ou então de um senhor com a calça abaixada com a genitália exposta na frente do mercado, não estamos criticando por criticar, estamos zelando por todos nós.

Bola fora, Minimercado Extra!

E vocês, mulherões, já passaram por isso?

p.s1: Além de me mandar tomar naquele lugar, a caixa cujo nome não citarei (embora pudesse, porque tenho testemunhas, boletim de ocorrência e a loja também possui gravação atestando o que aqui afirmo), também me ameaçou fisicamente, sendo impedida por funcionários que estavam no local. Óbvio que eu jamais revidaria, sou phyna e minhas unhas postiças estavam belas hoje!

p.s2: O senhor da giromba, logo depois levantou a calça e, cambaleante, e caminhou até o Bar, onde ficou por muito tempo, desta vez mostrando a bunda.

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“Sua gorda!” – Pelo direito de não me ofender com a realidade

Por Isabella Trad

Antes de começar, quero que prestem atenção no vídeo abaixo:

Passei a minha vida inteira aprendendo que ser gorda não é legal. Que eu não seria amada, atraente e muito menos teria sucesso, que eu não seria digna de elogios. Como muitas de vocês, criei a imagem de um monstro e fui repreendida e rebaixada diante de várias situações por conta do meu peso.

Familiares diziam que eu se eu ficasse magra tudo seria diferente, tudo seria mais fácil e sabe o que eu aprendi? Que a vida é difícil pra quem dá desculpas pra viver. E o que o vídeo tem haver? Bem, a intenção óbvia dos brasileiros foi fazer uma piada com essa garota gringa, linda e gorda.  Eu não ri. Fiquei com vergonha.

isabella 1

Ela é gorda, mas eles não tinham o direito de usar o adjetivo como defeito. Ela é gorda e linda, é gorda e tem cabelo liso, ela é gorda e quem decide encarar como elogio ou defeito é ela e não vocês!

Eu sei que se ela soubesse falar português provavelmente se sentiria ofendida e o meu recado pra ela é: Não se sinta. Meu recado pra todas vocês é esse, não se sintam ofendidas por ela e não se sintam ofendidas por serem chamadas de gordas, obesas ou baleias.

A intenção desses idiotas foi de ofender, usaram a palavra gorda como ofensa, mas no final, quem escolhe se ofender é VOCÊ. Prefere ser a gorda cheia de coitadismo que deixa os outros opinarem na sua vida e se e ofende com uma realidade que só você pode escolher se é boa ou ruim? A atitude da garota inocente, dando sorrisos de satisfação mesmo sem entender o que estava acontecendo é digna.

Se todas nós não tratássemos nosso peso como defeito, talvez as pessoas não o enxergassem como um. Bem, eu sou gorda, baixinha e ruiva e escolhi que nenhum desses adjetivos são defeitos.

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“Viado, fofoqueiro, gordo, feio, nojento”

Por Renata Poskus Vaz

“Viado, fofoqueiro, gordo, feio, nojento”. Essa agressão partiu de Paulo Nunes, ex-jogador de futebol que integrou grandes clubes como Flamengo e Corinthias, ao apresentador de televisão Gominho no reality show A Fazenda.

Ok, sei que muitas de vocês, leitoras queridas, não tem tempo para assistir ou simplesmente abominam reality shows. Então, por favor, não analisem a atração, mas a ofensa proferida por Paulo Nunes, que aconteceu em um programa de TV, mas poderia ter acontecido com qualquer uma de nós, em nosso dia a dia. Quantas de nós já não foi chamada de gorda, nojenta, feia etc, até mesmo por familiares ou amigos? Quantas humilhações desta natureza já sofremos? Coloquem-se no lugar do cara que tá lá, na TV, recebendo essas ofensas na frente de milhões de pessoas.

Quem é Gominho?

 Gominho é um repórter e apresentador de TV que ficou conhecido na blogosfera com suas postagens no Twitter. Fã de Preta Gil e Ivete Sangalo, o gordinho atraiu a atenção de muitos famosos e conquistou uma legião de seguidores. Em pouco tempo foi chamado para apresentar um programa de fofocas na Band, o Muito +, ao lado de Adriane Galisteu.

Sim, o programa era de fofocas, mas Gominho é fofoqueiro que nem a gente, fofoqueiro do bem. rsrsr

Gominho 2

Em uma ocasião, após relatar uma suposta briga entre as apresentadoras de TV Chris Flores e Ana Hickmann, Gominho foi chamado pelo marido de Ana Hickmann de “chupeta de baleia”. Embora tenha feito graça e tentado transparecer que não é nada demais ser chamado desta forma, sei que Gominho deve sim ter se ofendido. Imagine um negro ser chamado de “chupeta de macaco”… Ia dar cadeia para o ofensor, na certa. E posso garantir, nada do que disse Gominho justificava essa ofensa, já que ele apenas relatou algo que os grandes jornais e portais já haviam publicado.

Com o fim do programa Muito +, Gominho participou do Pânico na Band e ganhou um programa na rádio Band e aceitou essa participação na A Fazenda.

Embora ainda um tanto quanto desconhecido pelas grandes massas, Gominho é uma figura simpática, carismática. Gay assumido, bem-resolvido e super querido por sua família, que lida super bem com sua condição sexual.

Sei desses babados porque perguntei para a assessoria de imprensa. Rsrsr

Gominho

Gominho bebê

Assim como algumas de nós, ele nasceu gordo, com 4,5Kg e não sabe o que é ser magro. Gominho é negro e exibe a cabeleira armada e crespa sem medo de ser feliz.

É uma referência em moda. Com dificuldade em encontrar roupas, sua mãe elaborava para o filho túnicas diferentes, com uma pitada afro-brasileira. Hoje, estilistas famosos como Dudu Bertholini e também as lojas Mescla de Salvador, vestem Gominho.

Ele não quer e não tenta passar despercebido. Tem orgulho de ser quem é: fofoqueiro do bem, gay, negro e gordo.

Gominho 3

As ofensas

No reality A Fazenda, exibido pela Record, após dias e mais dias de bom relacionamento com seus companheiros de confinamento, Gominho falou sobre Paulo Nunes. Nada que ofendesse sua honra, mas comentários de jogo. Um outro participante, por sua vez, repassou os comentários para Paulo Nunes que, nervoso, repetiu seu mantra da ofensa: “Viado, fofoqueiro, gordo, feio, nojento”.

Não vou entrar no mérito da beleza duvidosa de Paulo Nunes, que nos anos 90 era apelidado de “Chuck” por sua semelhança com o personagem dos filmes “Brinquedo Assassino”, mas o pré-conceito com que ele tratou Gominho.

paulo nunes

O hétero, santo, magro, lindo e limpo Paulo Nunes #sóquenão

Gordofobia

Essas gordofobias mexem demais comigo.  Posso estar exagerando… Já falei que ultimamente pareço uma tia velha, toda emotiva… Mas dói. Quem já sofreu, quem já foi ofendido por ser gordo num grupo magro, sabe do que estou falando. Dói, porque é algo que não dá para você consertar. Não dá para alguém te xingar de gordo e no outro dia você emagrecer num passe de mágicas para não ser mais ofendido. Aliás, é algo que não precisa ser consertado…  Pessoas tem que mudar atitudes equivocadas e comportamentos inapropriados para conviverem bem em sociedade. Jamais mudar o peso e a orientação sexual para agradar os outros.

Fico chateada. Somos muitos Gominhos. Mas infelizmente existem muitos Paulos Nunes por aí também.

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