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Gorda que se ama faz dieta?

Por Renata Poskus Vaz

Lembre-se:  antes de ser gorda,  você é  uma mulher bem resolvida. E ser bem resolvida independe do seu peso. Amor próprio não está condicionado a um corpo imutável. Se você tem personalidade bem definida, caráter e autoestima, emagrecer ou engordar não te fará uma mulher mal resolvida. Os motivos que te levam a engordar e emagrecer sim, podem representar a falta de amor próprio. Emagrecer para ter mais saúde ou mais disposição é uma coisa, emagrecer para agradar alguém que não você mesma, é outra.

Nós envelhecemos e aprendemos a manter nosso amor  próprio mesmo com as rugas que o tempo nos traz. O tempo passa, o corpo muda, e o amor próprio continua lá. Podemos também mudar o cabelo,  pintá-lo, cortá-lo,  alisá-lo ou enrolá-lo e todas essas mudanças não são sinônimo de insatisfação pessoal, é apenas desejo de variar e se reinventar, sem perder sua essência. Com nosso peso é a mesma coisa.

“Se você se gosta gorda, por qual motivo quer emagrecer?”,  irão te perguntar. E você, se quiser, nem precisa responder. Afinal, se o dono da pergunta se amasse de verdade não estaria tomando conta da sua vida. Neste caso, vale a pena perder seu tempo e responder para alguém que nada entende de amor próprio?

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Retenção de líquidos? Não, você está gorda mesmo!

retenção de liquidos 1

Por Renata Poskus Vaz

Como vocês sabem, eu trabalho com modelos plus size. É comum contratar uma modelo e só na hora do trabalho percebo que ela está 2 manequins maior do que aquele que ela informou ao se candidatar para a vaga. Tenho que ser rígida. Se estou contratando uma modelo manequim 50 não posso receber uma 46 e nem uma 54. Então, indago (se bem que a resposta é óbvia, mas pergunto mais para justificar um possível corte): “engordou, fulana?” e a modelo responde: “não, é que estou para ficar menstruada e estou retendo líquido”.

A desculpa não rola. Primeiro porque modelo assume um compromisso com seus contratantes, ela precisa manter medidas para trabalhos, não pode nem engordar e nem emagrecer (poder pode, mas deve atualizar material e fornecer sempre medidas atualizadas) ou então tentar outra profissão. Muitas roupas são confeccionadas na medida exata da modelo e oscilações severas de peso, seja para baixo ou para cima, podem estragar toda uma produção. Sim, o mundo da moda é rígido e não perdoa nem as gordinhas.  Se as modelos plus size querem ser tratadas como iguais, devem se adequar à essas exigências.

Além disso, nós, mulheres, menstruamos todos os meses. Então se o inchaço é tão severo a ponto de te fazer reter líquidos todos os meses de forma tão exagerada, o melhor a se fazer é procurar ajuda médica. Afinal, uma retenção de líquidos drástica pode desencadear outros problemas graves de saúde.

Quer um exemplo?

Eu sou gorda, mas também tive uma crise séria de retenção e ainda investigo possíveis  problemas circulatórios. Este é  meu lindo pezinho (nojento!) no início do ano:

pé

Você que não  é modelo plus size, não tem um compromisso de manter medidas com ninguém. Se você não tem retenção de líquidos, ou se tem mas não o suficiente para engordar tanto em tão pouco tempo, não use isso como desculpa para o fato de estar gorda. Você não precisa mentir ou se envergonhar de ter engordado. Você  não vive do seu corpo e ninguém paga as suas contas!

Se alguém, no dia a dia, te perguntar se engordou, em uma situação que não vá fazer diferença alguma para quem está te perguntando, não se justifique como se você fosse culpada por estar acima do peso. Não invente doenças e síndromes. Você é uma mulher comum,  não é modelo, tem o direito sobre seu corpo e sua saúde. Não estou cobrando que você seja uma militante da banha, apenas não minta para os outros e para si mesma.

Você pode ficar quieta,  ignorar a pergunta, ou na lata dizer que o cara é um intrometido. Eles já imaginam o porquê de você estar gorda, só estão testando a sua sinceridade. 😉 Ninguém assume os brigadeiros que come, masbota a culpa na retenção hídrica. Seja sincera com você! O resto, é  apenas resto. 🙂

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Carta para minha mãe que me chama de gorda

Por Renata Poskus Vaz

fat womanFoto: Marjai Judit

Mãe, ontem a senhora me chamou de gorda.

Ok, eu sei que você falou com jeitinho para não me magoar, mas magoa. A senhora fala como se eu não enxergasse o que vejo no espelho, como se eu não percebesse que há tempos já passei do manequim 50. Não que eu ligue de ser gorda, muito pelo contrário. Mas os seus apontamentos sempre vem muito carregados de preconceito. Eu me sinto rejeitada e humilhada quando você faz isso.

Quando você fala que se preocupa comigo e que tem medo que eu não consiga um namorado por causa do meu peso, eu até entendo. Mas agora, mãe, vou te dizer a verdade: eu te entendo, mas não concordo. Eu não planejei ficar gorda, mas fiquei. E quer saber? Eu me amo pacas!

Não me culpe por meus quilos extras, como se eu fosse negligente ou relaxada. Se quer saber, mãe, sempre guardei algo para não te machucar, mas se fiquei gorda também é por culpa sua.

Lembra que a senhora rasgava os bicos da mamadeira para eu mamar mais rápido? Lembra que colocava metade da mamadeira de leite e a outra metade de Neston e açúcar? Era praticamente um mingau grosso, um coquetel de diabetes, que eu mamava 5 vezes por dia.

Mãe, você se lembra que só me deixava sair da mesa quando raspasse o prato? E que a cada refeição você aumentava a quantidade? Parecia que eu sempre tinha um novo desafio, comer mais e mais para não ficar de castigo e não deixar a mamãe chateada. Quando eu não comia tudo era aquele inferno. Eu até apanhava. Você pode negar, mas eu me habituei a comer para não te decepcionar, para ser elogiada e me sentia feliz com isso.

Eu me lembro também de ouvir a senhora falar que a  Dona Matilde, nossa vizinha, era uma má mãe, porque as filhas dela eram magrinhas demais, pareciam raquíticas e deviam não comer direito em casa. “Olha como essas meninas são feinhas, magrinhas”, você dizia. Eu queria ficar bonita. Hoje, você me compara com as filhas da Dona Matilde, que são altas e magras. Você sempre me diz: “tá vendo, olha lá a Marcinha, magra e linda. Conseguiu um marido rico! Aprende com  ela!”.

Mãe, como eu disse, eu não escolhi ser gorda. Eu me tornei uma. E não sou eu a única responsável por meus quilos extras. Agora sou adulta e não vou mais chorar o leite derramado. Eu poderia fazer dietas malucas para te agradar, para emagrecer, mas minha saúde está em ordem, estou aprendendo a comer direito e isso me basta, não vou ser escrava da balança. Conviva com isso mãe. Não tenho mais a obrigação de te agradar. E se você me amar de verdade, vai me aceitar assim. Assim como sou. Gorda e feliz.

update: Garotas, esse texto é uma crônica, um “faz de conta” inspirado em dezenas de relatos de leitoras tristes com situações em que passam dentro de suas próprias casas. Minha mãe morreu há mais de uma década. Na ocasião eu pesava menos de 60 Kg. Ou seja, eu era magra. Além disso, minha mãe não cometia esse tipo de crueldade comigo (ah, sim, ela entupia minha mamadeira de  açúcar e Neston e me fazia raspar o prato, além de me dar Coca-cola na mamadeira, mas não me humilhava e nem me cobrava um corpo perfeito). Ou seja, esse texto é apenas para refletirem.

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A patrulha do peso contra as gordinhas bem-resolvidas que fazem dieta

Por Renata Poskus Vaz

Aí você decide fazer dieta. Não dieta para usar manequim 38. Você sabe que esse manequim está no passado, nos seus 12 anos de idade, talvez. Também sabe do quanto sofreu ao ingerir aqueles tarjas-preta, as dietas malucas, tudo para ter o mesmo corpo da mocinha da novela. Você deixou de querer a silhueta da Gisele e finalmente redescobriu seu amor próprio. Só que hoje, por um motivo qualquer, você quer perder uns quilinhos.

Fazer reeducação alimentar com amor próprio é outra coisa. Você muda hábitos alimentares para se sentir melhor, para limpar o corpo e a mente. Não passa por privações que te torturam. Seu objetivo passa a ser só o de se cuidar e não o de emagrecer exageradamente, para parecer um outro alguém,  ou para agradar o marido, o filho, o chefe ou o papagaio.

E nesse processo de gordinha bem-resolvida que acaba emagrecendo por um motivo qualquer, você se depara com a patrulha do peso perdido: “e aí, não disse que era bem resolvida? então porque emagreceu?”. Lá está você  em uma nova situação, se justificando do porquê ter emagrecido. Uma releitura do passado, quando precisava justificar o porquê de não conseguir emagrecer. Mas agora você tem que se justificar por sua roupa ter ficado larga, por substituir a coca-cola por um suco natural, ou por não pesar mais 110 Kg, apenas 100.

“Como assim não vai comer um brigadeiro? Mas você não é uma gorda que se aceita?” …. Sim, eu sou, mas não quero comer hoje a porra do brigadeiro!

O grande “x” da questão é que as outras pessoas, mesmo não tendo nada haver com as suas escolhas particulares, sempre serão invasivas, fazendo cobranças. E é aí, neste momento, que você comprovará se realmente é uma pessoa bem-resolvida. Pessoas bem-resolvidas não se preocupam em se justificar em situações como essa. Pessoas bem-resolvidas seguem seu coração, mudam por si mesmas e não pelos outros.

🙂

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“Litha, você emagreceu tanto, o que você fez?”

Por Litha Bacchi

Faz mais ou menos 1 ano que muitas leitoras vêm me perguntar isso. Eu me esquivei da resposta por muito tempo. Acho que, principalmente, porque eu ainda não tava vendo eu no meu novo corpo. Eu tinha aceitado que era gorda, eu estava feliz, era a minha identidade (não que eu tenha virado magra, longe disso, era apenas um corpo que eu não reconhecia mais).

Eu não fiz cirurgia. Eu não fiz dieta. Eu não tentei emagrecer. Foi uma combinação de fatores e muitas hipóteses. Eu me mudei pra Londres em setembro/outubro de 2012 e minha vida mudou muito.

1) Eu parei de tomar pílula anticoncepcional, pois aqui não dá pra entrar na farmácia e comprar, tem que ter receita médica todo mês. Fiquei enrolando pra ir e acabei decidindo não tomar mais mesmo.

2) Tenho uma doença auto imune na minha tireoide, que melhora ou piora por motivos que nunca dá pra saber direito quais são. Pois ela deu uma melhorada depois que eu vim, eu não sei o porquê. Eu tomava 150mcg de T4 e agora eu tomo 100mcg.

3) Londres tem muito mais escadas do que Porto Alegre. Eu faço muito mais baldeação no transporte público do que em Porto Alegre. Eu não tenho mãe ou amigos com carro, e o táxi é caro, então só ando de transporte público.

4) Eu comecei a trabalhar no setor de alimentação, primeiro num fast food, depois como garçonete. A gente passa muitas horas de pé, carrega peso, sobe e desce escada, limpa tudo, etc.

5) Eu não tenho mais comida à vontade, porque sou eu que compro a minha própria comida. Antes a minha mãe mantinha a geladeira cheia, às vezes até me dava o cartão dela pra eu mesma ir no super mercado e comprar tudo o que eu queria. Por incrível que pareça, quando eu era mais gorda eu comia muito melhor. Eu vivia comprando todos os tipos de legumes, carnes, peixe, etc, e tinha uma alimentação muito variada.

Quem nunca foi solteiro morando sozinho, que jogue a primeira pedra: mas comida não é um gasto prioritário pra mim. Eu compro comida o suficiente pra me manter alimentada, e como tudo o que posso quando é de graça (trabalho em restaurante). Perto de casa uma caixinha de frango frito é 1 libra, um pacote de cookies é 59 pence. Comida congelada é baratíssimo. Mas eu como menos do que eu comia antes. Não tenho uma alimentação tão boa, mas como menos.

Eu não tentei emagrecer, a vida me emagreceu. Talvez a vida me engorde de novo. Eu parei de perder peso espontaneamente e estabilizei. E também não estou tentando perder peso nenhum. Eu absolutamente detesto falar de dieta e métodos para perder peso porque isso me traz uma sensação muito ruim da parte da minha vida onde eu não me aceitava e me sentia muito triste. Por isso eu ignorei muitas vezes quando me perguntavam, ou dei alguma resposta curta. Porque o assunto me faz mal. Resolvi escrever esse post pra esclarecer e evitar que me perguntem novamente. Espero que entendam, mas o assunto “emagrecimento” me traumatizou muito durante a vida e não é algo que eu queira conversar sobre de novo.

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