Arquivo da tag: redução de estômago

Gordas que odeiam ex-gordas

Por Renata Poskus Vaz

Há algum tempo falei aqui no Mulherão sobre ex-gordas que odeiam gordas. Mulheres que sofreram com o excesso de peso e que, após a operação de redução de estômago, passam a discriminar quem está acima do peso. Para relembrar, clique aqui e leia o texto Ex-gordas que odeiam gordas.

No entanto, hoje, vou falar do outro lado da moeda, sobre um pequeno (e chato) grupo de gordas que discriminam ex-gordas. Ou seja, mulheres que estão acima do peso, que tentam ou não emagrecer, que se dizem perseguidas e discriminadas por conta dos seus quilos extras, mas que hostilizam aquelas que optaram pela cirurgia de redução de estômago.

Semana passada, postei aqui no Blog Mulherão a história de Camila Moraes, participante do Dia de Modelo, que eliminou mais de 40 Kg após uma cirurgia de redução de estômago. Tive que excluir (sim, este Blog é moderado e não aceito que minhas leitoras sejam achincalhadas indiscriminadamente) uma série de comentários ofensivos à Camila. Na maioria deles, pessoas sem um mínimo de tato, que acusavam nosso Blog de fazer apologia ao acesso indiscriminado das cirurgias bariátricas, ou que atribuíam à Camila ares de irresponsável por ter escolhido uma “fácil forma de emagrecimento”.

 Cirurgia bariátrica é a escolha mais fácil?

Não vou negar que há muita gordinha por aí pensando que operar é a melhor escolha sem ao menos tentar alternativas de emagrecimento, como caminhar, fazer dieta etc. Cirurgia de redução de estômago é uma espécie de mutilação interna, que pode causar sofrimento físico e psicológico para o paciente, fato.

Conheço uma mulher, por exemplo, adepta da lei do mínimo esforço. Come barras e mais barras de chocolate suflair por dia, acompanhada de muita coca-cola, e o máximo de exercício que faz é mexer os dedinhos no teclado do computador. Ela poderia levar as crianças a pé para a escola, fazer uma caminhada pelo bairro, mas prefere (ou a depressão é tanta que a condena à essa ociosidade extrema)  ficar em casa. Essa mesma mulher, que nunca fez uma dieta séria com acompanhamento médico, manifesta a sua vontade de operar o estômago no Sistema Único de Saúde. Óbvio que, mesmo que ela conseguisse operar, essa cirurgia não adiantaria nada. Ela sofreria com a operação, não mudaria os seus hábitos e voltaria, após alguns anos, a engordar.

Ok, mas há aquelas pessoas que já se exercitaram, fizeram dietas com acompanhamento médico e não conseguem de jeito nenhum emagrecer. Nestes casos, a cirurgia bariátrica não é necessariamente a escolha mais fácil. É uma entre diversas opções de emagrecimento e, em alguns casos, a última opção para algumas pessoas. É uma cirurgia arriscada, delicada. Mesmo assim, confesso, queria eu que minha mãe, quando viva, tivesse tido a chance de operar o estômago. Ela já tinha feito todas as dietas do mundo, era ativa e, mesmo assim, morreu de trombose em decorrência da sua obesidade. Esta poderia ter sido sua grande e derradeira chance! E é por isso que acho que um obeso não tenha o direito de julgar o ex-obeso que operou. Não sabemos o que se passa na cabeça, no coração, na saúde e na vida dessas pessoas. Um gordo não é igual a outro gordo, lembrem disso!

 Ninguém gosta de ser obeso mórbido

Vez ou outra, vejo algumas blogueiras com uma militância gorda exagerada, discriminando pessoas que operam, emagrecem e usando o discurso de que ser gorda é a melhor coisa do mundo, como se ressoassem: “sou feliz porque peso 150 Kg”. Não preciso ser nenhuma especialista pra saber que ninguém gosta de ser gordo e que se pudéssemos escolher entre ter um corpo com peso equilibrado ou entalar na roleta do ônibus, escolheríamos a primeira opção.

A atriz Fabiana Karla, por exemplo, foi perseguida e humilhada publicamente por uma blogueira GG do mal, que fazia questão de chamá-la de falsa, mentirosa, porque Fabiana Karla dizia se amar quando estava gorda e manteve o discurso ao emagrecer após uma cirurgia de redução de intestino. Oras bolas, quem se ama se ama, não por causa dos seus quilos! Vai se amar gorda e vai se amar magra.

Então, acho que esse orgulho exacerbado gordo é, na verdade, uma autodefesa. Ninguém é feliz porque é gordo. Ninguém é feliz porque tem muita celulite. Ninguém é feliz porque tem dificuldades para caminhar ou respirar devido o excesso de peso. Somos felizes por outros motivos mais importantes e essas coisas se tornam supérfulas quando estamos bem interiormente. Temos que gostar de ser quem somos como um todo e não só por causa da nossa gordura. O correto seria pensar: “Sou feliz, linda, saudável e muito amada, apesar dos meus 150 Kg”.

Se olharmos por este ângulo, veremos que o excesso de peso será uma entre centenas de características que nos definem e seremos muito mais felizes e não perseguiremos os outros que são diferentes de nós.  Devemos nos cuidar, sempre. Ninguém precisa alcançar um manequim 38, mas pode e deve se alimentar corretamente e ter acompanhamento médico.  E isso serve para as magrinhas, para as gordinhas e para as ex-gordas. Se quiser que respeitem seu excesso de peso, respeite a ausência de gordura nas outras pessoas. Respeite as escolhas que os outros fazem. Respeite quem é diferente de você.

Este texto não é uma apologia à cirurgia de redução de estômago. Este texto é, na verdade, uma apologia ao direito das pessoas serem felizes como são ou como desejam ser, sem preconceito.

58 Comentários

Arquivado em Preconceito, Saúde

Espaço da leitora: Camila Moraes

“Desde criança fui gordinha e feliz. Tinha meu emprego, meu noivo e minha família…. Era uma mulher AMADA! Engordei 45 kg em um ano e meio devido a minha vida profissional doida entre viagens a países que a única comida que me salvava eram os Fast Food. Cheguei assim aos 148 kg.

Porém, descobri que devido ao meu sobrepeso eu não poderia gerar um filho em meu ventre. Além dos meus hormônios serem praticamente nulos, mesmo com tratamento eu poderia vir a falecer no parto devido ao aumento da pressão arterial comum na gestação. Foi quando tomei a decisão mais difícil da minha vida, realizar a cirurgia do estomago. Após 2 meses dessa decisão, estava em uma mesa de cirurgia no dia 08/10/2008.

Camila com blusa estampada

A minha recuperação não foi nada fácil, mais segui a regra, sempre com acompanhamento médico. Hoje peso 72 kg.

Apesar de olharem as minhas fotos do passado e falarem que não sou eu, não acreditarem que já tive quase 150 Kg, eu me sinto  a mesma mulher, porque o meu sorriso é o mesmo, pois o MULHERÃO de antes ainda está dentro de mim.

Ah, vocês devem estar se perguntando sobre meu casamento e sobre o filho que eu tanto queria ter….. Hoje, ainda não tenho o meu filho, nem casei  e estou solteira….. Mas acredito que por pouco tempo … rsrs”

Fotos da Camila hoje, realizadas no Dia de Modelo:

Conte sua história para a gente também! Escreva para blogmulherao@hotmail.com

23 Comentários

Arquivado em Espaço da Leitora, Uncategorized

As ex-gordas que odeiam gordas

 

Esta sou eu, gorda, em uma campanha para a Duloren

Certa vez uma jornalista me perguntou o porquê de toda gorda ser boazinha e simpática. Isso me intrigou. Realmente são pouquíssimas as gordinhas que conheci ao longo de minha vida que não se apresentavam, num primeiro momento, como pessoas adoráveis e gentis. Com a convivência fui percebendo que muitas delas realmente eram pessoas do bem, outras escondiam atrás de seus doces sorrisos a falta de caráter, a maldade etc.

Li alguns artigos dizendo que a maioria de nós, mulheres acima do peso, aprende a ser mais agradável, mais simpática, até como uma forma de chamar atenção e para se sentir “aceita” pela sociedade. Uma jovem gostosona, mesmo que intragável, nem sempre deixa de ser convidada para uma festa. Todos acabam tolerando a sua falta de carisma, afinal, aos olhos de jovens que prezam pelo culto ao corpo perfeito, um corpão escultural sacolejando pelo salão é muito mais valioso do que uma alma nobre sentada em uma cadeira. Então, para a gordinha ser notada em uma sociedade preconceituosa, tem que ser sempre a mais legal, a mais divertida, a mais paciente, a mais educada e por aí vai.

E quem a gordinha é de verdade?

 Com a proliferação de cirurgias para redução de estômago, uma nova geração de ex-gordas está surgindo. Não sou contra quem opere o estômago para emagrecer, muito pelo contrário. Acho que todas nós devemos nos utilizar de reeducação alimentar, dietas rígidas ou intervenções cirúrgicas, caso o nosso excesso de peso esteja colocando em risco a nossa saúde.

Entretanto, o que tenho acompanhando, é que algumas pessoas reduzem o estômago e esquecem de seu passado gordo. Passam a punir e perseguir os outros gordos, como se jamais tivessem passado por essa condição.

 Esta semana tive acesso a um texto de Danuzza, uma famosa blogueira que, inclusive, atua em uma empresa chamada Groupália, um site de compras coletivas por quem algumas de nós, mulherões, somos apaixonadas. Vejam o texto:

“De coração, eu DUVIDO que quem se diz o rei ou rainha da autoestima, mesmo sendo gordo, não fica puto por não caber em cadeiras, não conseguir trepar direito, não ter roupas legais, não ser alvo de olhares maldosos e piedosos, ser motivo de preconceito, chacota, xingamento… Ninguém no mundo quer ser ridicularizado.

Não me venham com esse papo de “eu me aceito, gostam de mim assim” é, gostam… Tá bom… Gostam de vc mas o emprego é de outro, gostam de vc, mas não te comem, gostam de vc mas geral tá cagando qdo vc chora sozinho e pragueja esse mundo, essa sociedade, esse maldito padrão de beleza enquanto enche o rabo de brigadeiro.

Convite pra praia ou festa… Vai falar que é sossegado?! Não é. Bom, pelo menos pra quem tem noção do ridículo né?! Já viu cada vestido lindo de festa pra quem estoura a balança?! Me poupem. Eu nunca me acostumaria com essa merda.

Eu ainda não sou a rainha da autoestima nem estou confortável dentro da curva de normalidade, mas estou tão bem que qro mostrar que é fácil sair dessa vida vazia e cheia de comida e de sair desse ciclo babaca e deprê para viver melhor. E não digo só de saúde. É se olhar no espelho e dizer a plenos pulmões: “Tô gata pra caraleo!”

E não me venham com esse papo de “tô gorda mas meu marido me come” Ah sim, ele te come… mas come outras tbm. Certeza.

“Ah, mas gordinhos (ahn?!) são bonitos e simpáticos.” Caraleo… Faustão é lindo e mega simpático!
Não fode, saca?! Hipocrisia infernal. Se gordura fosse sinônimo de beleza, desfilariam de lingerie e asas mulheres com manequim acima de 44…

Sério, me arrepia ver a galera explodindo e geral batendo palma… E dá-lhe checkin no Outback…

Portanto sim, quero estar bem dentro e encaixadinha dentro da curva. Me sinto bem assim. Lá é lindo e não pulam gordurinhas pra fora do jeans.

Agora… Se você levanta a bandeira contrária, boa sorte com a sua militância e seu big mac. E esconda essa merda de braço gordo que ninguém é obrigado a ver vc se deformando…”

Quando li este texto da Danuzza fiquei chocada. Primeiro porque ela trabalha em um lugar que lida com público. E como discriminar parte do grupo para quem você vende seus produtos? Depois, pela forma grosseira como falou. Acho que todo mundo tem o direito de não gostar de gordo, argentino, negro, cadeirante, nordestino, baixinhos…. Mas manifestar desta forma, com tanta agressividade, soa como uma violência sem tamanho. Prontamente fui me manifestar no twitter e ela justificou sua indelicadeza em seu blog, com um novo texto,  o 38. Leiam:

não é calibre
São quilos

Eu não ia falar nada da minha condição aqui
mas como fui muitíssimo mal interpretada por mtos, lá vai

minha vida era mto boa qdo eu pesava 60kg
aí, merdas aconteceram, fiquei triste
e me descompensou

fui me compensar na comida
qdo dei por mim, estava com 38kg a mais
isso em 1 ano

um choque!
um dia, uma pessoa mto querida
disse q meu braço estava deformado
de tão gorda q eu estava

em outra ocasião
uma outra pessoa
deu dois tapinhas na minha coxa e disse
“tá presuntosa. vc está horrível”

na verdade, eu não vi aquilo acontecer
e depois de esbravejar e ficar puta
como mtos aqui ficaram
eu me olhei de corpo inteiro
e chorei a minha vida

comecei a fazer um regime
que todos que me cercam acompanharam
resultado zero

sofriam comigo, me davam forças
e nada

fui deixada, humilhada
xingada

passava mal
me faltava o ar, o ânimo
a autoestima

nada me vestia bem, fazer sexo já não era simples
sentia vergonha
me olhavam com desprezo e piedade
pensei em morrer

comecei a fazer exames
saúde perfeita
decidi colocar um ponto final
depois de anfetaminas, vômitos e laxantes

cirurgia

procurei mtos médicos
achei o perfeito pra mim

tudo pronto
data marcada

dor e agonia
1 semana sem trabalhar
30 dias tomando só líquidos
depois acrescenta gelatina
que traz a felicidade de um bolo de chocolate
sucos, leite, agua de coco

tudo mto sofrido
mas foi a minha escolha

cada centavo do meu salário
vai, todo mês
pro pagamento da minha cirurgia

sem saídas, sem troca de carro
preciso estar em paz comigo

hj faz 46 dias
ontem, no 45, postei um texto com coisas q passei
que ofendeu mtas pessoas

definitivamente não foi minha intenção
peço desculpas para todos

hj, após 46 dias
estou mais feliz, me aceitando mais
as pessoas q amo, q convivo e q trabalho
me dão uma força absurda

já se foram 15
faltam mtos

e sei que não é sinônimo de felicidade
mas eu fico em paz comigo

repito
não quis ser agressiva
apenas relatei o que passei
gostoso de ouvir?
não
nem um pouco

se eu gostava?
tbm não

vc se aceita?!
parabéns. (sem ironia)
eu nunca

não é calibre
são quilos

não é cirurgia de vesícula
é redução de estômago

P.S.: falaram tanto em ajudar… fui ajudada por mta gente sensacional antes e agora. minhas amigas reduzidas. qro fazer o mesmo por quem tem a mesma vontade que nós. quem quer comer até morrer, sorry. não posso fazer nada.

 Pronto! Aumentou a minha indignação. A pessoa que tanto falou mal de gordo é uma ex-gorda e há apenas 45 dias. Como pode? Para mim, Danuzza justificou que escreveu o primeiro texto em terceira pessoa e que talvez este tenha sido o seu erro. Se ela realmente tivesse certeza de seu equívoco e indelicadeza, porque fecharia esta retratação com a seguinte frase: “quem quer comer até morrer, sorry. não posso fazer nada”.

 Não dá para aceitar este tipo de conduta. Eu poderia ser tão preconceituosa quanto Danuzza e dizer que ela é uma covarde, preguiçosa e acomodada que escolheu o caminho mais curto para emagrecer, que se fosse uma mulher decidida e forte como tenta transparecer teria feito uma reeducação alimentar, lenta, mas eficaz tão quanto. Mas não fiz isso em nome de minhas amigas gastoplastizadas que são do bem. Que fizeram a redução, mas continuam tratando pessoas diferentes com dignidade.  Também poderia mostrar para Danuzza dezenas de exemplos de amigas que fizeram redução de estomago e que engordaram tudo novamente, após 6 anos. Mas isso seria desejar seu mal, e de mal dentro dela já há bastante.

 Lembrei do exemplo de uma amiga próxima. Seu ex-namorado namorava uma gordinha, que fez redução, ficou se sentindo a última bolacha do pacote e logo em seguida perdeu o namorado, que agora namora minha amiga gordinha. A tal garota achava que seu relacionamento seria eterno, mas não. Perdeu o bofe para alguém, agora, quilos e quilos mais gorda do que ela. Há mais de 2 anos a ex-gorda persegue minha amiga e posta comentários ofensivos em suas redes sociais, esquecendo que um dia (não, não, por 30 anos) foi gorda também. Como não quero ser processada, não vou dizer que esta menina chama Carol. Juro que não! rsrsrs

Não sou psicóloga, mas creio que exemplos como esse não são traduzem pessoas que mudaram de personalidade ao emagrecer. Esse tipo de gente sempre foi assim: cruel, narcisista, preconceituoso… Só não tinha coragem de exaltar esse lado sujo e ficavam escondidas por trás de quilos e quilos de peso e falsa ternura.

Desculpem este meu desabafo. Sei que este blog não é um local apenas para lamúrias e prometo postar muitas dicas legais de moda, porque ao contrário do que a Danuzza e a Carol pensam podemos sim ser charmosas e poderosas com alguns ou muitos quilos a mais.

 E para completar, deixo meu singelo recado para Danuzza, da mesma forma super “fina” como ela escreve: 

“Minha bunda ainda cabe na cadeira, trepo maravilhosamente bem, sou super fashion e ninguém me ofende ou me humilha, porque sou um mulherão.!”

Os textos da Danuzza foram extraídos daqui.

249 Comentários

Arquivado em O que rola por aí, Para Refletir, Preconceito

Ela reduziu o estômago, eliminou 80 Kg e recuperou a saúde

Por Renata Poskus Vaz

Como o prometido, esta semana vou postar uma série de matérias e depoimentos sobre redução de estômago. A idéia não é estimular ninguém a operar. Mas mostrar os prós e contras de uma intervenção cirúrgica em um processo de emagrecimento visando o resgate da saúde.

Depoimento de Patrícia Roschel, advogada, paulistana 

Sempre fui gordinha, desde criança. Na adolescência cheguei a emagrecer, mas peguei hepatite e lá se foi meu regime. Fiz várias tentativas frustradas e sempre engordava o dobro do que tinha emagrecido.

Cheguei no fundo do poço de 2005 para 2006. Estava com depressão, não por ser obesa, mas por outras situações que me sentia despreparada psicologicamente para enfrentar. Eu fazia faculdade (sou bacharel em Direito), sempre tive bastante amigos, mas tinha um namorado há três anos que após certo tempo de namoro começou a me maltratar muito. Eu sofria com isso, ele me falava coisas horríveis, me chamava de gorda, dizia que eu era feia e que estava comigo por pena. Para completar, falava que eu não teria coragem de terminar com ele, já que euy tinha consciência de que ninguém mais iria me querer por eu ser do tamanho que eu era. Ele chegava bêbado em casa, ia dormir e me deixava sozinha. Nessas situações eu fazia uma panela de brigadeiro para me consolar.

Cada dia que passava, eu me afundava mais. Sentia-me triste, amarga, me afastei da minha familia, dos meu amigos e não consegui me desprender deste homem que só me fazia mal.

Em uma dessas ocasiões em que fiquei sozinha enquanto meu namorado dormia bêbado, assisti um programa sobre a cirurgia de redução de estômago. Foi quando decidi que eu tinha que mudar de vida, precisava sair daquela tristeza em que vivia. Na época, eu pesava 162 Kg, usava calça 62, tinha pressão alta e tomava 5 remédios para controlá-la.

calça antes, número 62 – depois, número 46

 

Pesquisei sobre o médico, sobre a clinica, sobre quem já tinha feito  e conversei com a minha mãe, que foi minha fortaleza. Marquei, então, a consulta. Conversei como meu namorado e mais uma vez ele desdenhou. Fui ingênua achando que ele me daria força.

Eu não tinha convênio médico e a cirurgia custava muito caro. Meu pai não tinha como pagar pra mim, mas eu estava decidida a operar. Refinanciei meu veículo e com o dinheiro marquei minha cirurgia para o dia 18 de outubro de 2006. Estava com medo, mas a vontade de mudar de vida era bem maior. Tive um acompanhamento psicológico, acho isso fundamental. Ainda faço terapia até hoje. Essa cirurgia precisa ser muito bem pensada. Não é fácil! Você praticamente nasce de novo, reaprende a comer, a beber, a mastigar, é como se fosse um bebê….. Não adianta pensar “ah, Vou reduzir o estômago e pronto, meus problemas estão solucionados!”. Muito pelo contrário, os efeito colaterais são imensos e por isso é fundamenal o preparo psicológico. Você não deve operar somente o estomago, deve operar primeiro a cabeça.

No dia 17 a noite, encontrei esse meu ainda namorado para lhe dar o endereço do hospital, caso ele quisesse me visitar. Ele pegou o papel, amassou sem ler e  jogou pela janela do carro. Fui para casa arrasada, arrumei minhas coisas, dormi e acordei para o dia do meu renascimento.

Graças  a Deus a cirurgia foi muito bem. Depois de 4 dias fui pra casa, me recuperei, não tive complições nenhuma, graças a Deus. Não vou negar que tive algumas dificuldades, mas nada que não fosse superado com muita força de vontade. Ainda sou gordinha, o médico disse que meu peso jamais seria menor que 77 kgs devido a minha estrutura óssea. Hoje vario entre os 79 e 83 kg. .

O que eu gostaria de deixar dessa minha experiência, é que não se deve banalizar esta cirurgia. É uma decisão muito séria, que só se deve ser tomada em caso de muita necessidade. Não se deve engordar propositadamente para poder fazer a cirurgia, isso é perigoso. 

Voltando ao meu namorado da época, acho que o médico tirou ele de dentro de mim junto com o estomago. O dia 17 de outubro, quando ele jogou o papel pela janela do carro, foi o ultimo dia que o vi. Quando deitei na cama do hospital, decidi que tiraria de mim tudo o que me fazia mal e decidi que nunca mais iria vê-lo !

Nos 3 meses seguintes à minha operação de redução do estômago, conheci uma pessoa muito especial e hoje estamos de casamento marcado para o dia 08 de outubro deste ano.

 

Beijo meninas

 

Patricia Roschel

73 Comentários

Arquivado em Saúde