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Até que a gordura os separe.

Por Keka Demétrio

Todos os relacionamentos são feitos de altos e baixos e isso é perfeitamente normal considerando-se que somos seres individuais, e mesmo que possamos compartilhar dos mesmos ideais e sonhos, cada um sente e reage à vida de forma distinta. Também não é nenhuma novidade que a questão da gordura é um prato cheio para uma relação chegar a ter mais baixos do que altos.

Vaca gorda. Depois de anos de relacionamento era assim que ele estava se referindo a esposa. Ela parecia não acreditar, mas o termo era esse mesmo: Vaca gorda. Nunca em sua vida quis tanto que o chão se abrisse sob seus pés e ela desaparecesse junto com aquela sensação que parecia consumir o resto do resto dos seus sonhos. Suas lágrimas pareciam queimar enquanto sua cabeça rodopiava. Embora tentasse coordenar os pensamentos, não conseguia se quer se manter em pé. Sentia-se um lixo.

Ela cresceu ouvindo piadinhas de mau gosto pelas formas arredondadas do seu corpo, e embora em alguns raros momentos se sentisse bonita, sua auto estima precisava de um guindaste para poder ser elevada. Foram anos e anos acumulando a sensação de se sentir um nada, alguém incapaz de despertar os sentimentos de alguém, e por isso ela mal acreditou que aquele homem tão interessante a paquerava descaradamente. Bom, o resto da história não é difícil de adivinhar, ela se apaixonou perdidamente e ficou realmente cega, surda e muda. Seus dias eram vividos em função do que ele queria e desejava, assim, pensava ela, ele nunca a deixaria, mas sem saber ela começava a viver à margem de si mesma. Não foi uma e nem duas vezes que após uma briga ela implorava perdão tomando toda a culpa para si, mendigando amor e carinho.

Viver à margem dos próprios sentimentos, carregados de medos e se auto depreciando é a melhor forma de se enfiar cada vez mais em um abismo chamado depressão. Permitir que alguém, quem quer que seja se dirija a você com ofensas é muita falta de amor próprio. E confesso, não tenho dó de quem vive assim, choramingando pela vida, lamentando as ofensas sofridas por parte do companheiro. Em nenhum relacionamento alguém é 100% culpado por todo o bem ou por todo o mal, ambos tem sua parcela de contribuição, e se ela deixou chegar ao ponto de ser ofendida por um termo tão chulo é porque ela também se trata muito mal. E sinto muito, mas quando a gente se trata mal tudo e todos à nossa volta age da mesma forma. Ação e reação, simples assim.

A baixa auto estima nos deixa vulneráveis aos relacionamentos de submissão, onde nos achamos tão ínfimos, tão nada que qualquer migalha é muitíssimo bem vinda e transformamos isso em “um grande amor”, até que um dia, pela dor, choramos pelo que nos tornamos.

Escutar piadinhas de mau gosto de estranhos é uma coisa, mas ouvir da pessoa que você jura ser o amor da sua vida dói, e não dói pouco não, dói pra c%$*&#, como toda dor de alma que se preze. Eu sei que o termo usado pelo infeliz foi pejorativo de mais, mas não pense que os termos chulos são privilégios de alguns, pois homem quando quer ofender é pior do que mulher despeitada.

Ok, eu sei que não é nada fácil ser GG em um mundo que valoriza quem é PP, mas peloamordequalquercoisa um relacionamento não é feito só das formas do corpo, e ninguém termina um relacionamento porque o companheiro está acima do peso, mas sim pelo o que essa pessoa faz em relação a estar acima do peso. Portanto, se nós mulheres não toleramos grosserias, homem nenhum suporta mulher chata, mal humorada, amarga, que só sabe reclamar da vida. E infelizmente é assim que a maioria de nós passamos a agir para depois dar uma de vítima (aff, detesto quem se faz de vítima) e dizer que foi abandonada porque estava gorda.  

 

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Amor ou submissão?

Por Keka Demétrio

Ninguém deve fingir que aceita os sonhos e as vontades do outro, cada um tem sua própria vida para escrever e não temos o direito de rasurar a história de ninguém, e quando pensamos em relacionamentos a coisa fica ainda mais complicada.

Quando estamos na fase da conquista, tentamos nos mostrar como aquele que está ali para completar a vida do outro, e se quer somos capazes de parar para pensar se realmente é isso que desejamos, ou se é carência, ou se estamos vivendo a fase “deixa a vida me levar”. E então o egoísmo nos cega e o que realmente passa a importar naquele momento não é o que o gato deseja, mas sim o que você quer, e naquele momento o que mais almeja é poder sair desfilando por aí com o dito cujo. Ou vice versa.

 Nesse caso você está buscando a auto afirmação e não um relacionamento pautado no amor. Amor é coisa bem diferente. O amor é algo muito profundo e não brincadeira que a gente começa e termina na hora em que bem entende. O amor é o que é, não precisa de tradução, de explicação, e qualquer teoria apenas tenta expor em palavras o que o coração sente quando está em profunda sintonia com a alma. Dizem que um relacionamento construído no amor não é egoísta, nem se prende a convenções, e ao contrário do que muitos pensam, é leve como uma pluma, e avesso a qualquer tipo de poder que possa levar alguém a se sentir subjugado.

Amor não tem nada a ver com poder. Entre duas pessoas que se amam não pode haver hierarquia, pois isso destrói a capacidade das pessoas de se declarar humano, dotado de virtudes e defeitos, sonhos e desejos. Quando se vive um relacionamento onde um se sobrepõe ao outro, é como se vivesse em um regime escravocrata, e sendo assim, não há troca, mas apenas submissão.  E a submissão não se pratica sozinho, assim como o amor é preciso que haja duas pessoas, porém, diferente do amor que engrandece e nos torna fortes diante das intempéries da vida, a submissão nos faz pequenos, ínfimos, machuca nossas asas e nos impede de voar.

Portanto, cuide das suas asas, não permita que seus sonhos sejam anulados ou esmagados pela sua pouquíssima autoestima. Trabalhe o que tem de melhor e se permita voar. Acredite, tem muito jardim que você precisa conhecer.   

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Valkíria quer o mundo (final)

Por Eduardo Soares

O repertório de submissão com doses de constrangimento era tão absurdo que as cenas beiravam o cômico. Zulmira era mandona e Sérgio fazia o tipo sujeito capacho. Poucos foram aqueles que tiveram a oportunidade de ver (ou melhor, ouvir) o cara abrir a boca para falar algo que não fosse “tá bom!,Sim, bem”.

– Sérgio, bateu vontade de comer algo. Vá comprar caviar búlgaro e vinho grego! Agora!

– Amor, são duas da manhã! A essa hora não tem nad…

– SÉRGIOOOO! VOU TER QUE FALAR DUAS VEZES???

– Tá bom! Sim, bem…

Outra situação:

– Querido, nosso cachorro rasgou a roupinha dele. Toma o dinheiro e compre outra idêntica.

– Amor, a roupa foi comprada numa pet shop lá em Miami! Agora não tem como…

– SÉRGIOOOO! VOCÊ QUER QUE O BICHO PEGUE RESFRIADO, SEU DESALMADO??

– Tá bom! Sim, bem…

E foi nesse cenário de puro romance que Zulmira decidiu ter uma filha. Uma só, para ser tão paparicada como ela fora na infância. Alguns empregados maliciosos da casa diziam que neste período era comum ouvir berreiros nas madrugadas. Mais ou menos nessa linha: SÉRGIOOOO, MENINA!! QUERO MENINA!! SE CONCENTRA!! CAPRICHA!! FOCO!! MANTENHA O FOCOOO!!

Dou um doce para quem adivinhar qual foi a resposta…

Ou o pedido foi incisivo ou a sorte teve pena do Sérgio pois o casal foi presenteado com uma linda menina: Valkíria. Com K mesmo que era, de acordo com a cabeça da mãe, para o nome soar de forma pomposa. Como se tivesse diferença sonora entre o K e QU. Bom, posso dizer “kero keijo” e qualquer zumbi dominante do idioma português vai entender o recado.

Valkíria cresceu num ambiente super protetor. Parecia habitar dentro daquelas enormes bolhas plásticas. Mesmo com toda mania de riqueza da sua mãe, ironicamente sua única amiguinha de todos os dias era a filha da cozinheira. Curioso, enquanto a menina humilde ficava deslumbrada com aquele mundo glamoroso, Valkíria nutria carinho pelos brinquedos improvisados da amiga pobre.

Desde cedo,era nítido o desconforto de Valkíria com a superficialidade das coleguinhas ricas da escola. Era tudo muito blasé, na hora do intervalo ninguém podia correr muito para evitar chegar suado em casa. As meninas colecionavam vários tipos de Barbies, cada uma mais linda (e cara) do que a outra. Esse jeito humanitário foi herança justamente do pai (aquele sujeito quase dissilábico). Da mãe ela herdou o prazer das viagens, embora não tivesse obsessão de conhecer lugares refinados, como era o caso de Zulmira. Em tempo: nessa altura, a já formada Valkíria trabalhava como correspondente no Brasil de dois renomados jornais estrangeiros. Recentemente ela quis fazer uma viagem de qualquer jeito. Animada, a mãe incentivou a filha. Pedidos descompromissados (de lembrancinhas da Europa) aconteciam quase todos os dias que antecederam o passeio.  E lá foi ela curtir um mês de descanso, justamente no período de férias de ambos os trabalhos.  De volta para casa, Valkíria trouxe inúmeros presentes…de países africanos. Zulmira quase infartou. Ao desembrulhar uma preciosidade, ela chegou a perguntar se não seria bom deixar o presente de quarentena para evitar o contágio com doenças típicas do continente africano.

Como foi dito no começo do texto, Zulmira queria que sua filha fosse sua cópia, incluindo aí todas suas qualidades e a penca de defeitos. Vale a pena ressaltar que era notório a ausência de amor entre ela e Sérgio. Nunca houve tal sentimento entre os dois. E talvez por isso Zulmira impôs a filha que ela tivesse um homem rico. Vários filhos de casais bem sucedidos foram apresentados a Valkíria, que sempre via em cada um dos pretendentes riqueza e ao mesmo tempo vazio.

De tanto insistir, Zulmira acabou conseguindo o que tanto queria. Contra a vontade (queria provar que a mãe nutria conceitos ultrapassados) Valkíria casou-se com o filho de um desembargador. Desde então, Zulmira faz da filha sua copia perfeita, isto é, era uma pessoa que vivia apenas de aparências e assim dava seqüência a sua trajetória de infelicidade (ou inexistência) no amor.

Valkíria tinha tudo. Veio de berço de ouro, estudou nas melhores escolas da cidade, nunca passou por dificuldades, viajava para onde e quando quisesse, freqüentava a alta sociedade desde cedo. Escolhera um casamento fadado ao fracasso com o intuito de provar a mãe que felicidade não possui conta bancária nas Ilhas Cayman. Sua amiguinha de infância (a filha da cozinheira) prosperou na vida e transformou-se numa professora exemplar. Casou, construiu uma família e vivia de forma simples, mas tinha toda felicidade do mundo dentro da casa.

Valkíria tinha tudo mas continuava dentro da bolha de plástico e assim ficava impedida de viver como qualquer um de nós. Seu querer, apesar de parecer estranho, era simples. Ela queria respirar, soltar as amarras, desbravar horizontes apenas conhecidos através de sonhos.

Outro dia ouvi dizer que rico é carente. Acho que essa definição cai como uma luva nessa historia de quem tem tudo e ao mesmo tempo não possui nada.

Ela não pedia muito. Queria apenas sair da bolha.

Mesmo com vários carimbos nos passaportes, Valkíria queria conhecer o mundo.

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Aprenda a dizer não

Por Luciane Russo

LucianeÉ muito simples o porquê de não conseguirmos dizer não – queremos ser aceitos – pela família, pelos filhos, amigos, enfim, por todos e para isso imaginamos que cedendo a todos os pedidos alcançaremos essa aceitação. Mas este pensamento está errado. A partir do momento em que você começa a ceder a tudo que lhe pedem, as pessoas simplesmente perdem o respeito e a noção das coisas. Sempre que precisarem de alguém, para qualquer coisa, chamarão você. Mas não seria falta de caridade não ajudar? Não estamos aqui falando de não ajudar ao próximo e, sim, dizer alguns “nãos” quando você não pode ou quando você não quer. É simples. Sua melhor amiga te chama pra sair justamente naquele dia que a única coisa que você quer é ficar em casa, debaixo das cobertas com seu livro. O que fazer? Dizer que não está afim ou sair só para não chateá-la? Muitas vezes fazemos coisas que não nos agradam só para não desagradar aos outros, mas isso está certo? Estamos sendo verdadeiros com quem mais importa em nossas vidas, ou seja, nós mesmos? Acho que não, apesar de ser um treino bem difícil, temos de aprender a dizer não para coisas que não nos agradam ou, simplesmente, não estamos afim. Pode parecer cruel, mas com a maturidade conseguimos entender que não será um “não” que acabará com a família ou com a amizade. E se acabar, é porque não era uma relação verdadeira. Amigos de verdade nos respeitam e a família, ora, ela sempre será a família. Então, pare pra pensar e veja se você não está fazendo somente o que os outros querem em detrimento de sua própria vontade só para agradar. Em nossa vida, a pessoa que mais devemos agradar, somos nós mesmas, pois pode ter certeza de que ninguém fará isso por você, a não ser você mesma.

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