Por Renata Poskus Vaz
Existem situações constrangedoras pelas quais uma gorda passa, mas nenhuma se compara a ficar entalada ao experimentar ou vestir uma roupa.
Há cerca de um mês, comprei maiôs novos para a hidroginástica na loja Centauro de São Paulo. Experimentei, na loja, o modelo de uma marca na cor azul e ficou muito bonito e confortável em mim. A toquinha que vinha de brinde também ficou ótima. Na hora de pagar, peguei um modelo idêntico, da mesma marca, do mesmo tamanho, na cor Pink. Não experimentei porque achava que se tratando de peças idênticas, do mesmo tamanho, apenas em cores diferentes, isso seria perda de tempo. Percebi, da maneira mais terrível, que deveria tê-lo experimentado sim.
Com o maiô Pink na bolsa, fui para a academia. Normalmente eu me troco em casa, já vou com o maiô da hidroginástica por baixo da roupa, mas naquele dia estava atrasada. No vestiário havia umas 20 mulheres, todas esperando para entrar na piscina. Então, eu, como uma bela gordinha bem-resolvida, tirei meu maiô da bolsa e fiquei peladona, na frente de todas, para colocá-lo.
Senti uma certa dificuldade em passá-lo pela perna. Estranhei. Ele quase entalou em minhas coxas, mas puxei firme e forte até cobrir meu bumbum. Não havia o porquê daquele maiô não entrar em mim e eu estava indignada com essa situação. Suei frio. E se ficasse entalado de verdade, como faria para retirá-lo? Todas olhavam para mim. Continuei tentando puxar o maiô para cima, mas ele não subia. E, para piorar, enrolava em meu próprio suor, dificultando ainda mais o trabalho que eu estava tendo para colocá-lo. Por falar em enrolar, é impressionante que as roupas, em gorda, enrolem sempre bem no meio das costas, onde nunca conseguimos alcançar. Parece até piadinha divina para gordos.
Naquele momento comecei a fazer promessas para São Longuinho e bolar teorias mirabolantes para sair daquela situação constrangedora. Foi quando uma senhora, vendo meu sofrimento, sem me dizer uma única palavra, desenrolou a parte de trás para mim. Olhei para ela, sorrindo (claro, com o sorriso amarelaço) e disse: “acredita que peguei o maiô da minha irmã por engano?”. Meu Deus, por que menti? Se eu me acho a rainha da autoestima, por que menti que o maiô era da minha irmã e não meu? A verdade é que mesmo a mais bem resolvida das mulheres, jamais aceitará que fez uma compra errada, por impulso, ou que cometeu a burrada de tentar entrar em uma roupa muito menor do que o seu manequim.
Enfim, eu me tranquei no banheiro para colocar meus seios no maiô e conseguir encaixar meus braços. Precisei esgarçar o maiô para meus seios entrarem e eles ficaram bem esmagadinhos, coitados! Mas o sofrimento não terminou por aí. A toquinha também era bem menor. Fiquei parecendo o Dunga dos sete anões com ela. Mas tudo bem, isso foi fácil de encarar. Não desisti de colocar o maiô, pois minha determinação em fazer a aula foi bem maior. Fiquei orgulhosa de mim mesma.
Acabei jogando fora aquele maiô, que apesar de ser vendido como sendo de uma numeração, era bem menor. É uma pena que não exista, no Brasil, uma lei que coíba essas disparidades de tamanhos.
Toda essa história seria engraçada, se tivesse acontecido apenas uma vez. Mas não. Eu sempre entalo nas roupas. Essa é a minha sina de gorda. rsrsrs Inúmeras vezes fiquei entalada em blusas e vestidos em provadores minúsculos de lojas de roupa, passando calor. E quanto mais eu suava, mais a roupa entalava. Sempre dá aquele desespero, um desejo inconsciente de rasgar tudo e sair correndo. O pior é a vendedora, do lado de fora, querendo entrar no provador para ver se “ficou bom”. É um sufoco danado.
Torço pelo dia em que as roupas terão um padrão, a mesma medida, para que eu não fique entalada quando prová-las. E se for para ficar, que seja em um provador bem grande, com ar condicionado, com a cara da riqueza e sem uma vendedora chata na porta querendo testemunhar tudo.
Esse texto foi dedicado às minhas amigas da Fan Page Plus Size Depressão 😉