Por Renata Poskus Vaz
Amanda Santana, 29 anos, manequim 48, já foi uma menina triste, vítima de bullying na infância e adolescência. Achava que o emagrecimento seria a única forma de lhe trazer a tão sonhada felicidade. Mas só depois de muito tempo ela foi perceber que a maior mudança deveria ocorrer dentro dela e não em sua silhueta. Hoje, Amanda possui dois títulos de Miss Rio de Janeiro e é um exemplo de superação para muitas meninas que esperam, um dia, resgatar a autoestima.
Confira o relato de Amanda:
“Meninas, hoje quero contar um pouco mais sobre a minha história. Faço parte de uma família onde herdei a genética da obesidade.
Minha luta com a balança começou aos 7 anos de idade. Meus pais sempre tiveram atenção com minha saúde. Fui apresentada às dietas nesse período, mesmo sem entender o porquê de ter que que emagrecer. Como toda criança, não queria saber de dietas, gostava mesmo era das guloseimas. Os anos foram passando e eu continuei engordando, chegando na adolescência, fui sofrendo as consequências de ser gordinha. Sofria bullying e sempre faltava nos dias em que tinha aula de educação física para evitar sofrer com as brincadeiras de mau gosto.

Neste período de transição entre a infância e adolescência fui motivo de chacota por onde eu passava, no colégio, nas ruas, nos transportes públicos, nas lojas de roupas e até mesmo entre amigos, piadinhas de gordo não faltavam. Nisso, fui me escondendo, evitava sair de casa, já não queria ir à escola, fui me tornando uma adolescente complexada, triste e muito insegura.
Entre meus 15 e 16 anos já era obesa mórbida e não quis uma festa de 15 anos como toda menina sonha. Eu não me via com bons olhos, me achava feia, não tinha o corpinho das minhas amigas, e vamos falar sério naquela época não era fácil encontrar uma roupa básica, imagina um vestido de festa usando manequim 54.

Aos 17 anos decidi dar um basta! Meus pais já tinham tentado de tudo, nutricionista, endocrinologista, psicólogo, vigilante do peso, fórmulas, shakes e dieta da sopa, tudo que se pode imaginar de dieta. Um certo dia tive um choque de realidade, percebi que a decisão de emagrecer só dependia de mim. Minha mãe sofria junto comigo. Foi então que, chorando, com uma calça manequim 54 na mão, olhei para o espelho e chamei minha mãe e falei que seria a última vez que usaria aquela calça . Minha mãe me abraçou e, em prantos, disse que estaria ao meu lado em qualquer decisão.

Minha mudança de vida foi bem radical, peguei pesado na dieta, comecei a fazer exercício físico, fui vendo o resultado e me animava cada vez mais, cada mês meu manequim diminuía, e no período de 1 ano e meio fui do manequim 54 ao 40. Foi então que me deparei com outro dilema: a perda de muito peso em pouco tempo me deixou flácida e com excesso de pele, necessitando de cirurgia plástica reparadora.
Mesmo com a nova silhueta, eu me via ainda gorda. Tinha uma imagem distorcida de mim mesma, me achando feia. Ainda era escrava da dieta, mas num descuido engordava alguns quilinhos. Nessa fase eu já trabalhava, não tinha tempo de fazer exercícios físico, estava “magra” e não estava feliz e continuava a pensar gordo, pois adoro comer. Percebi que ser magra não era a solução para os meus problemas. Eu não era feliz comigo mesma, independente de como estivesse, magra ou gorda, o problema estava dentro de mim.
Os anos foram se passando e eu desencanei da balança. Na fase adulta aceitei que meu biotipo não era o de uma mulher magra e me conformei com meus quilinhos a mais. Neste período comecei a me interessar pelo mundo plus size. Foram 3 anos acompanhando a evolução do mercado plus, via roupas modernas, modelos e artistas se assumindo como gordinhas, fiquei tão empolgada que sempre comentava com as amigas do trabalho e em casa com minha família. Fui incentivada por eles a fazer um book profissional. Mesmo me achando fora dos padrões de beleza, resolvi arriscar.

Para minha surpresa recebi um convite para fazer um mega trabalho para a Glamur Fashion, renomada grife do Rio de Janeiro, e aceitei na hora. Quando surgem as oportunidades não podemos desperdiçá-las, e neste trabalho dei início a minha caminhada de superações. Nunca tinha usado blusa sem manga e, meninas, a coleção era primavera/verão! A experiência foi tão boa que pensei “é isso que quero pra minha vida” e percebi que através desse trabalho havia deixado para trás todos os meus complexos.

Orientada por uma amiga, fiz a inscrição para o o concurso Miss Plus size Carioca, organizado por Eduardo Arauju. Pensei que seria uma experiência muito legal e uma oportunidade para conhecer mulheres gordinhas como eu, que tiveram as mesmas dificuldades que as minhas. Achei que me faria bem e me surpreendi ao ser agraciada com o título.

E olha só que Deus tem feito na minha vida! Meus sonhos não pararam por aí. Recebi o segundo título agora, o Miss Rio de Janeiro 2013 da organização de Renata Issas, e disputarei a final nacional em breve. Chego a não acreditar.
Sinto-me honrada em ser representante de um segmento onde eu realmente faço parte. Digo a vocês que depois dessas experiências hoje me vejo de outra forma. Amo minhas curvas, aceito minhas gordurinhas localizadas, celulites e estrias, não sofro mais, sei que elas fazem parte de mim, meu corpo não mudou, eu que mudei, porque TODA mudança tem que ser de dentro para fora, hoje consigo enxergar a tal beleza que todos sempre viam em mim. Sou muito mais feliz.
Com meu relato não estou incentivando a obesidade muito menos o sedentarismo, tenho preocupação com minha saúde, cuida da minha alimentação e faço exercícios. Quando olho no espelho vejo uma mulher segura e que sabe o que quer. Tudo que passei na maior parte da vida rejeitando, hoje me trás alegrias.”
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